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Governadores isolam Bolsonaro e articulam ações para conter pandemia

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Governadores isolam Bolsonaro e articulam ações para conter pandemia

Em meio ao agravamento da pandemia de Covid-19 e à insuficiência de ações concretas do governo federal, governadores dos 26 estados e do Distrito Federal vêm procurando marcar diferenças em relação ao presidente Jair Bolsonaro.

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Além da formação de um consórcio para a compra da Sputnik V, anunciada na última semana, os chefes dos Executivos estaduais cogitam ir diretamente a entidades internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), para garantir prioridade ao Brasil no envio de outros imunizantes. Eles também articulam o estabelecimento de critérios unificados, com base em indicadores como lotação de leitos de UTI, para adoção de medidas restritivas em cada estado.

O distanciamento do presidente, ainda que em diferentes escalas, inclui tradicionais aliados, como os governadores Cláudio Castro (Rio), Ronaldo Caiado (Goiás) e Ratinho Júnior (Paraná), que assinaram, na semana passada, uma carta com críticas a Bolsonaro.

Para o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), há nuances nos posicionamentos, já que “alguns não querem ficar mal com o presidente nem receber ataques de sua militância”.

Um dos que criticam abertamente Bolsonaro, Casagrande defende um grupo de trabalho de governadores junto ao Congresso para acompanhamento da vacinação — a proposta foi acertada em reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

O grupo seria uma alternativa para que os governadores participem de tratativas diplomáticas que priorizem o Brasil no envio de vacinas, embora o plano inicial seja uma negociação via Itamaraty. Também não está descartado um contato direto com a OMS.

“Isso passa pelo nosso horizonte, sim. Mas estamos nos concentrando, neste momento, no diálogo interno. Se o próprio Ministério da Saúde fala que podemos chegar a três mil mortes diárias, esperamos que isso seja acompanhado de atitudes do governo” diz Casagrande.

Na semana passada, duas cartas divulgadas pelo Fórum de Governadores expuseram oscilações no tom e na adesão às críticas a Bolsonaro. A primeira, na segunda-feira, teve assinaturas de 19 governadores, incluindo Ratinho Júnior, Caiado e Castro.

O documento criticou “a linha da má informação e da promoção do conflito” adotada por Bolsonaro e, referindo-se a uma publicação do presidente nas redes, disse que os repasses da União aos estados se tratam de “expresso mandamento constitucional”.

Em seu post, Bolsonaro incluiu no cálculo de repasses valores de transferências obrigatórias e sem relação com a pandemia, como os relativos ao Fundeb, além do auxílio emergencial, aprovado pelo Congresso. Os governadores do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e da Bahia, Rui Costa (PT), entraram com pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) para “remoção ou a correção de publicação enganosa”, que foi replicada no perfil da Secretaria de Comunicação da Presidência.

Para Dino, o presidente “só se move (no combate à pandemia) quando os governadores pressionam”.

“Até o momento, a ideia consensual dos governadores é comprar vacinas e entregá-las ao Plano Nacional de Imunização (PNI). Mas é claro que isso pode ser revisto. O governo federal não tem consistência” afirma.

Cálculos políticos com vistas a 2022 e a própria resistência de parte da população ao endurecimento de regras de circulação, depois de um ano de pandemia, impedem, por ora, uma contraposição ainda mais acirrada.

Para governadores ouvidos pelo GLOBO, a ausência das assinaturas de Ratinho Júnior, Caiado e Castro na segunda carta, mesmo com tom mais moderado, indica que o trio prefere preservar pontes com Bolsonaro, reagindo apenas “no limite”, como no ataque do fim de semana. Na quinta, Castro disse que “não há necessidade” de mais medidas restritivas no estado.

O governador do Rio tem se articulado para a reeleição junto com o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e estuda se filiar ao PSD ou ao PP, partidos hoje próximos a Bolsonaro. Caiado, que confrontou a postura do presidente no início da pandemia, passou a direcionar críticas ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), a quem acusa de politizar a campanha de vacinação.

Com 14 assinaturas, a carta de quinta-feira pediu ao governo federal rapidez nos acordos com farmacêuticas para a chegada de doses ainda no primeiro semestre, sugerindo pela primeira vez uma mediação da OMS — ideia que partiu do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB).

Ao GLOBO, Leite — que deve concorrer com Doria para ser o candidato tucano à Presidência em 2022 — elevou o tom contra Bolsonaro:

“A partir do momento em que o presidente incentiva as pessoas a se aglomerarem, desdenha da vacina, desdenha dos cuidados básicos que o mundo inteiro está adotando, essa postura mata”, diz.

O momento atual não foi o único que evidenciou a tensão entre Bolsonaro e os governadores: no ano passado, aliados de Helder Barbalho (Pará) levantaram suspeitas de “atuação política” em uma operação da Polícia Federal sobre desvio de recursos para o combate à pandemia; no mês passado, também houve reações quando o presidente anunciou a intenção de mudar a forma de cobrança do ICMS, imposto relevante para os estados.

“Conciliação improvável”

Na parcela de governadores que oscilam entre a adesão ao grupo e os acenos a Bolsonaro, há uma tentativa de circular entre diferentes correntes políticas para formar base em 2022.

É esse o cenário interpretado, por exemplo, por aliados de Reinaldo Azambuja (PSDB), do Mato Grosso do Sul, que assinou cartas abertas com críticas ao presidente em 2020, mas não incluiu seu nome nos documentos deste ano. Ele já foi aliado do grupo mais próximo ao ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), mas tenta lançar um candidato de seu partido para concorrer à sucessão estadual.

Já governadores que não assinaram nenhuma das cartas, de olho no apoio de Bolsonaro em 2022, acenam, por outro lado, com medidas mais restritivas em seus estados. O governador de Minas, Romeu Zema (Novo), criou na última semana uma nova fase do seu plano sanitário para reduzir a circulação de pessoas e fechar serviços não essenciais em cerca de 80 cidades, com toque de recolher.

Embora a fase não seja chamada de lockdown, Zema avalia que é “algo próximo a isso”. Para ele, porém, “ficar atirando pedra” no governo federal é forma de “dar holofote a alguns, sem levar a melhoria alguma”.

“Se alguma coisa deveria ter sido coordenada nacionalmente, era no início da pandemia. Agora, é inadequado lidar com todos os estados da mesma forma. Em alguns casos, a situação (entre governadores e governo federal) chegou a tal ponto que uma conciliação fica improvável”, diz Zema.