Fabricar o cheiro da Lua? A aposta maluca de um 'escultor de aromas' francês
Michaël Moisseeff dedicou sua vida a desvendar os mistérios do olfato e a produzir, a partir de moléculas, todos os tipos de cheiros. O ‘escultor de aromas’ Michaël Moisseeff cheira um frasco em um laboratório montado em sua casa Montegut-Lauragais perto de Toulouse, no sudoeste da França
Georges Gobet/AFP
Ele nunca usou uma roupa de astronauta, muito menos esteve no espaço, mas em seu laboratório do sudoeste da França, lotado de frascos, o “escultor de aromas” Michaël Moisseeff reconstituiu o cheiro… da Lua.
Com uma camisa florida e cabelos brancos amarrados para trás, este homem de 66 anos, que estudou genética, dedicou sua vida a desvendar os mistérios do olfato e a produzir, a partir de moléculas, todos os tipos de cheiros, fragrâncias e infusões.
“Para recriar o cheiro de uma vegetação rasteira, por exemplo, é preciso ir ao local primeiro. Há musgo? Líquen? Umidade? Faço um inventário e reúno meus elementos como um pintor com sua paleta de cores, depois trabalho nas proporções para tentar o máximo possível refinar o resultado”, explica o especialista.
Mas para a Lua, a Cidade do Espaço de Toulouse, precursora do projeto, “não quis me pagar a viagem”, brinca Moisseeff em sua casa, transformada em um museu de mil aromas.
A única coisa que este “escultor de aromas”, como ele mesmo se define, pode fazer é recorrer às descrições de vários astronautas que caminharam na Lua, como Neil Armstrong.
“Na ausência de oxigênio na Lua, ele obviamente não conseguiu sentir o cheiro de nada, mas quando voltou ao módulo, o cheiro da poeira que havia ficado em seu traje o lembrou da pólvora negra queimada dos velhos rifles” de seis balas, afirma.
O ‘escultor de aromas’ Michaël Moisseeff cheira um frasco em sua casa Montegut-Lauragais perto de Toulouse, no sudoeste da França
Georges Gobet/AFP
Carvão e enxofre
Como reproduzi-lo? Para isso, Moisseeff decidiu explodir pólvora negra em seus frascos. Após várias tentativas frustradas e alguns sustos, ele conseguiu “capturar” uma dose queimada.
Então, quando já tinha o cheiro desejado em mente, este alquimista do século XXI reuniu vários elementos em seu laboratório, para obter um resultado de notas metálicas, carbonáceas e sulfurosas que causam cócegas tanto no nariz quanto na imaginação.
“Este cheiro enigmático reproduzido a partir das descrições de alguns astronautas lembram aromas conhecidos como a pólvora dos canhões ou as cinzas da chaminé, mas isso não quer dizer que existam esses elementos na Lua”, explica Xavier Penot, comunicador científico da Cidade do Espaço.
“Sensação individual”
“Um cheiro ocorre quando uma molécula se liga a um receptor na mucosa olfatória, gerando um sinal que provocará uma sensação”, explica Moisseeff.
“E essa sensação é absolutamente individual, dependendo da genética e do que cada um tenha vivido”, acrescenta, enfatizando que o ser humano possui cerca de 260 receptores olfativos.
O “artista científico” trabalha há anos projetando instalações e experiências olfativas em cabines telefônicas, cidades inteiras ou salas de espetáculos, atendendo encomendas de museus, associações ou empresas, e realiza treinamentos e palestras de “degustação de cheiros”.
Seu próximo desafio? “Reconstruir o cheiro da Gioconda”, um perfume da época do Renascimento. “Um trabalho minucioso de pesquisa histórica”, comenta, empolgado.