Estudo analisa exames de 178,8 mil brasileiros e mostra influência de sexo e idade em perfis de risco da Covid-19
Cientistas usaram bioinformática para analisar 200 parâmetros laboratoriais, como a contagem de células sanguíneas, hormônios, e enzima hepáticas, entre outros. Micrografia eletrônica de uma célula infectada por partículas do SARS-CoV-2 (amarelo). A área preta é espaço extracelular entre as células.
Integrated Research Facility (IRF)/NIAID
Um grupo de pesquisadores analisou os dados de 178,8 mil pessoas infectados pelo Sars CoV-2 no Brasil para tentar identificar a influência do sexo e da idade dos pacientes na gravidade da Covid-19. O estudo ainda não foi publicado em revistas científicas, nem revisado por outros pesquisadores.
Dentre estes 179 mil testes, 33,2 mil apresentaram resultado positivo para a doença do novo coroanavírus. De acordo com os autores, os resultados podem ajudar profissionais de saúde que atuam no combate à doença nos hospitais, na linha de frente.
“O vírus SARS-CoV-2 pode desencadear um amplo espectro de manifestações clínicas, variando de doença assintomática ou leve a doença grave e morte. Os parâmetros laboratoriais também variam muito de acordo com a idade e o sexo do paciente e, muitas vezes, os médicos têm dificuldade para interpretar os resultados dos exames e identificar uma alteração significativa. Esperamos que este trabalho possa ajudar nesse processo de avaliação”, disse Helder Nakaya, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP).
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O grupo de cientistas usou bioinformática para cruzar 200 parâmetros laboratoriais dos milhares de brasileiros infectados. Eles observaram a contagem completa de células sanguíneas e dosagem de eletrólitos, metabólitos, gases no sangue arterial, enzimas hepáticas, hormônios e biomarcadores de inflamação. Esses exames são feitos rotineiramente nos pacientes.
“Trata-se da maior coorte de pacientes com COVID-19 cujos dados laboratoriais foram sistematicamente analisados até o momento. Trabalhos anteriores já haviam investigado a relação da doença com muitos desses parâmetros – principalmente as citocinas [moléculas que desencadeiam o processo inflamatório] e a proteína C-reativa [principal biomarcador de inflamação sistêmica]. Mas, até então, havia apenas artigos que relatavam o estudo de alguns poucos parâmetros em muitos indivíduos ou de muitos parâmetros em poucos indivíduos”, disse Nakaya.
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Após analisar os dados, os especialistas notaram que os índices que mostram a existência de uma inflamação, como a proteína C-reativa e a ferritina, aumentaram mais em homens mais velhos com Covid-19. Já testes que mostram um função hepática anormal foram observados em diferentes idades, exceto em mulheres mais jovens.
“Baixo índice de basófilos e eosinófilos (glóbulos brancos, células de proteção) no sangue também foi mais comum em idosos com Covid-19. Pacientes do sexo masculino e feminino internados em unidade de terapia intensiva (UTI) também apresentaram alterações no sistema de coagulação e níveis mais elevados de neutrófilos, PCR, lactato desidrogenase (enzima ligada ao processamento da glicose), entre outros”, dizem os autores.
Entre as análises descritas no artigo, a infecção pelo Sars-CoV-2 em indivíduos de 13 a 60 anos se mostrou associada a alteração em diversos parâmetros laboratoriais de maneira muito mais frequente em homens do que em mulheres. Em pessoas com mais de 60 anos, as alterações laboratoriais parecem ter afetado igualmente homens e mulheres.
“Esses resultados sugerem uma clara associação entre a gravidade da doença e a ativação descontrolada de processos inflamatórios que possivelmente desencadeiam coagulação. O gatilho inflamatório da atividade de coagulação é uma hipótese relevante, pois implica que o controle terapêutico pode ser otimizado por meio de terapia anti-inflamatória. Porém, ainda são necessários estudos futuros desenhados para testar diretamente essa ideia”, explica o médico Bruno Andrade, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Salvador, na Bahia, e coautor do artigo.
A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
*com informações da Agência Fapesp
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