Eficácia da vacina e mais 7 tópicos: entenda os conceitos em jogo nos testes e na imunização contra a Covid
Eficácia é a mesma coisa que efetividade? O que significa ‘cobertura vacinal’? O que é ‘resposta imune’? G1 explica os principais termos relacionados ao tema. Enfermeira prepara dose da vacina Sputnik V, desenvolvida pela Rússia para proteger população da Covid-19
Tatyana Makeyeva/Reuters
As farmacêuticas Pfizer e BioNTech e a Rússia anunciaram, nesta segunda-feira (9), que suas vacinas candidatas contra a Covid têm “mais de 90%” de eficácia contra a doença. Mas o que isso significa?
Nesta reportagem, você vai entender esse e alguns outros conceitos que ajudam a entender como as vacinas funcionam:
Eficácia
Efetividade
Fases de testes
Imunidade de rebanho
Cadeia ou rede de frio
Cobertura vacinal
Resposta imune
Tipos de vacinas
1 – Eficácia
Esse conceito se aplica apenas quando estamos falando de vacinas em fase 3 de estudos. Por isso, os dados de eficácia são calculados em ambientes controlados, em que os cientistas monitoram os participantes do estudo.
A taxa de eficácia representa a proporção de redução de casos entre o grupo vacinado comparado com o grupo não vacinado.
A eficácia da vacina quadrivalente contra a dengue, por exemplo, é de 65,5% na prevenção da doença; na prevenção de dengue grave e hemorrágica, de 93%; e da internação é de mais de 80%, segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Já no caso da febre amarela, a eficácia é de mais de 95% para maiores de 2 anos em ambas as versões (da Fiocruz e da Sanofi Pasteur), também de acordo com a SBIm.
2 – Efetividade
Esse número reflete o impacto real da vacina na população. Em outras palavras: mede o quanto a vacina consegue reduzir os casos de uma doença na vida real.
Por exemplo: segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações, o número de registros de meningite meningocócica em menores de 2 anos no Brasil caiu 70% após a vacina meningocócica C ter sido incluída no SUS.
Profissional de saúde se prepara para aplicar vacina da pólio em um bebê em Banda Aceh, na Indonésia, no dia 4 de novembro.
Chaideer Mahyuddin/AFP
A efetividade de uma vacina pode ser afetada por questões como problemas durante o transporte (por exemplo, na cadeia de frio).
Também pode acontecer que as pessoas que testaram a vacina em fase 3 não representem, de forma ideal, a população em que ela vai ser aplicada. Por exemplo: é diferente testar uma vacina em adultos e aplicá-la em crianças ou idosos.
Outro ponto é que as pessoas que participam de testes de uma vacina sabem que estão participando de um teste – o que pode fazer com que elas adotem outros cuidados para se proteger da doença. Isso porque, em regra, os voluntários de uma vacina têm chance igual de receber a imunização ou um placebo (substância inativa, que não vai gerar a resposta imune).
Na vida real, quando recebem a imunização, as pessoas podem agir de forma mais despreocupada, porque sabem que receberam algo que promete gerar a resposta imune.
3 – Fases de testes
Nos testes de uma vacina – normalmente divididos em fase 1, 2, e 3 – os cientistas tentam identificar efeitos adversos graves e se a imunização foi capaz de induzir uma resposta imune, ou seja, uma resposta do sistema de defesa do corpo.
ETAPAS: por que a fase 3 dos testes clínicos é essencial para o sucesso e a segurança das vacinas
Os testes de fase 1 costumam envolver dezenas de voluntários; os de fase 2, centenas; e os de fase 3, milhares. Essas fases costumam ser conduzidas separadamente, mas, por causa da urgência em achar uma imunização da Covid-19, várias empresas têm realizado mais de uma etapa ao mesmo tempo.
Antes de começar os testes em humanos, as vacinas são testadas em animais – normalmente em camundongos e, depois, em macacos.
4 – Imunidade de rebanho
É o efeito obtido quando algumas pessoas são indiretamente protegidas pela vacinação de outras, mesmo que não tenham sido vacinadas. Isso acaba beneficiando a saúde de toda a comunidade. É o mesmo que “proteção de grupo” ou “proteção de rebanho”.
‘Imunidade de rebanho’: o que é e quais os riscos de deixar a pandemia correr seu curso
Funciona da seguinte forma: a pessoa A é vacinada e protegida contra uma doença. Assim, ela não vai transmitir a doença para a pessoa B, que não está imunizada. Essa não imunização pode ocorrer por vários motivos:
a pessoa B pode ser um bebê, então não pode, ainda, tomar algumas vacinas;
a pessoa B tem algum problema de saúde que impede que ela receba a vacina;
ou, ainda, a pessoa B pode ter recebido a imunização, mas não conseguiu produzir a quantidade adequada de anticorpos para se defender.
Quando uma quantidade suficiente de pessoas está imunizada contra uma doença, a circulação do vírus ou da bactéria que a causa diminui a ponto de ela não conseguir mais infectar ninguém.
Mas, para que isso aconteça, é preciso que a cobertura vacinal esteja alta. Isso não vem acontecendo no Brasil desde, pelo menos, 2015 para várias doenças. Foi assim que o país perdeu, no ano passado, o certificado de erradicação do sarampo.
5 – Cadeia ou rede de frio
É o sistema que inclui o armazenamento, transporte e manipulação de vacinas em condições adequadas de refrigeração, desde o laboratório produtor até o momento em que a vacina é aplicada em uma pessoa. Normalmente, a temperatura para armazenar uma vacina vai de 2ºC a 8ºC.
6 – Cobertura vacinal
Esse termo refere-se ao percentual da população que está vacinada. Quanto mais pessoas recebem determinada vacina, maior é a cobertura vacinal. A eliminação ou controle de qualquer doença para a qual existe uma vacina depende de atingir e manter uma alta cobertura vacinal.
No caso do sarampo, por exemplo, é preciso que a cobertura vacinal esteja em 95% para garantir que a população esteja protegida.
7 – Resposta imune
Foto microscópica mostra célula humana sendo infectada pelo Sars Cov-2, o novo coronavírus
NIAID via Nasa
A resposta imune é a resposta do sistema de defesa do corpo contra algum “invasor” – que pode ser uma bactéria, no caso da tuberculose, um vírus, no caso do Sars-CoV-2, além de inúmeros outros.
Ao desenvolver e aplicar uma vacina, o objetivo dos cientistas é “enganar” o sistema imune – fazê-lo pensar que está sendo invadido por aquele vírus (ou bactéria) para que ele crie defesas contra o invasor. Desta forma, quando o invasor verdadeiro entrar no corpo, ele terá condições de se defender, porque a defesa já está montada.
ESPECIAL: Conheça as candidatas a vacina para a Covid-19
Ao entrar em contato com aquele invasor que está na vacina (veja mais em “tipos de vacinas”), o corpo reage e cria anticorpos contra ele. Ao mesmo tempo, entram em ação, também, as células do sistema de defesa, que são responsáveis, entre outros pontos, por criar uma resposta imune de longo prazo e matar outras células infectadas por ele.
8 – Tipos de vacinas
Para conseguir induzir a resposta imune (ou seja, fazer com que o corpo crie anticorpos contra uma doença), as vacinas precisam, na sua composição, “imitar” o vírus ou a bactéria de alguma forma. Isso é feito, principalmente, de 4 maneiras:
Elas podem ter apenas informações genéticas do vírus em sua composição.
Elas podem ter o material genético do vírus “acoplado” em um outro vírus (o chamado vetor viral) e ser introduzidas no corpo.
Elas têm ter pedaços do vírus, as proteínas, em sua composição.
Elas podem ter o vírus inteiro ou a bactéria em sua composição. Esse vírus ou essa bactéria pode estar atenuado (enfraquecido) ou inativado (“morto”).
VÍDEOS: veja novidades sobre as vacinas contra a Covid-19