O que o Movimento Panteras Cinzentas pode nos ensinar
A extraordinária militância de Maggie Kuhn deveria ser um farol a nos guiar Maggie Kuhn morreu há 25 anos, em 1995, mas nunca esteve tão atual. E faz uma falta danada na luta pelos direitos dos idosos! Neste último domingo do ano, gostaria de lembrar sua trajetória de forma que todos nós possamos nos inspirar com sua militância. Quando uma aposentadoria compulsória a tirou do trabalho, aos 65 anos, criou um grupo para combater a discriminação que empurrava idosos para fora de cena. O ano era 1970 e, além de protestar contra a Guerra do Vietnã, seus membros argumentavam que os velhos, ao lado das mulheres, constituíam os recursos humanos mais subestimados dos Estados Unidos. O nome Gray Panthers (Panteras Cinzentas) foi dado pelo produtor de um talk show em Nova York. Pegou e foi adotado pelo movimento que, no final da década, tinha mais de 100 mil associados.
Visionária, antecipava: “em 2020, haverá mais velhos que jovens” – e realmente caminhamos nessa direção. Entre suas frases que continuam sendo ecoadas por especialistas em gerontologia, uma das mais conhecidas é: “a velhice não é uma doença. É força e sobrevivência, triunfo sobre todos os tipos de desapontamentos e vicissitudes”. Mas minha preferida traduz sua capacidade de luta: “nós, que somos velhos, não temos nada a perder! Temos tudo a ganhar vivendo perigosamente! Podemos dar início às mudanças sem pôr em risco o emprego ou a família, somos aqueles que devemos assumir os riscos!”.
Magghie Kuhn, fundadora do Movimento dos Panteras Cinzentas
Divulgação
Margareth E. Kuhn também entendia que o convívio entre gerações era poderoso para gerar mudanças. O lema dos Panteras Cinzentas até hoje é “Age and youth in action” (“Velhice e juventude em ação”) e havia estudantes de Ensino Médio e universitários em suas fileiras. A líder acreditava que os jovens deveriam ser ouvidos e levados a sério, e que poderiam ter um papel relevante na sociedade – na sua opinião, esse era outro grupo esnobado, cujo potencial estava sendo desperdiçado.
Seu grande feito foi derrubar no Congresso, em 1986, a aposentadoria compulsória para a maior parte das atividades, mas houve vitórias em diversas outras áreas e um olhar atento para denunciar os estereótipos sobre a velhice na TV. Não tinha medo da polêmica: discutia a sexualidade madura com naturalidade e causou furor ao defender que as mulheres maduras deveriam se abrir para relacionamentos com homens mais jovens ou outras mulheres, uma alternativa para a falta de companheiros, uma vez que os homens vivem menos.
Ela morreu durante o sono em 1995, com 89 anos, quatro anos depois de lançar sua autobiografia: “No stone unturned”, título que pode ser traduzido como “Não ficará pedra sobre pedra”. Sua personalidade era tão marcante que sua partida representou um esvaziamento dos Gray Panthers, mas a organização resiste, com núcleos em diversas cidades norte-americanas. Uma última frase de Maggie traduz a missão que nós, mais velhos, temos: “somos os anciãos da tribo. Estamos preocupados com a sobrevivência da tribo”.