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De atriz a ialorixá, a opção por servir

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De atriz a ialorixá, a opção por servir


“Esse universo de doação é também o que me alimenta e me traz alegria”, diz mãe Carmem Depois do jardineiro Dionízio, tema da coluna de terça-feira, hoje o blog conta a história de uma sacerdotisa, uma protetora dos orixás que não se arrepende de ter deixado para trás a vida confortável que levava antes.
Ela era uma típica adolescente da Zona Sul do Rio que, bem cedo, se apaixonou pelo teatro. Aos 13 anos já atuava e, contra a vontade dos pais, que preferiam uma profissão mais estável, fez faculdade de Artes Cênicas junto com o curso de História. Até a década de 1990, o rosto luminoso de Carmem Figueira, cuja marca registrada continua sendo um largo sorriso, podia ser apreciado na TV em programas como “Os Trapalhões” e nos palcos cariocas mas, num relance, sua vida nunca mais foi a mesma.
A ialorixá Carmem: trabalho na comunidade de Jorge Turco, na Zona Norte do Rio de Janeiro
Leandro Cunha
Na época, frequentava uma irmandade espiritualista e o patriarca da organização a aconselhou a procurar um centro de umbanda. “Fazia, com frequência, papéis de Pombagira, e ele achou que eu lidava com algo profundo que deveria conhecer melhor. Quando cheguei lá, imediatamente a entidade se manifestou. Não escolhi, não procurei esse caminho, fui fazendo o que me era dito. Quando o que te conduz é a mística, você mergulha no abismo, é uma ruptura total, mas esse universo de doação é também o que me alimenta e me traz alegria. Nunca pedi que entendessem, apenas que respeitassem”, afirma.
Agora é mãe Carmem, ialorixá da Casa do Raio Dourado de São Francisco de Assis Instituição Espiritualista de Estudo e Caridade, situada na comunidade Jorge Turco, que fica no entroncamento de três bairros da Zona Norte do Rio. “Antes de ser uma casa de umbanda, é uma casa franciscana, ou seja, nossa missão é servir, servir, servir. Meu propósito, há muitos anos, é dar o melhor de mim no sentido público”, enfatiza. A parte laica abriga o Espaço Andorinha, projeto social que atende 30 crianças. “Numa comunidade como essa, falta tudo. A milícia tenta cobrar percentual até de pequenos negócios domésticos, como vender sacolés. No começo, as crianças eram proibidas por pastores de igrejas neopentecostais de frequentar o lugar, chamado de casa de macumba, casa do diabo”, como lembra Carmem, que acrescenta: “hoje somos extremamente respeitados”.
Desde o início da pandemia, praticamente se mudou para a comunidade e assistiu, feliz, ao crescimento do número de voluntários e doações. A Casa Raio Dourado cadastrou cem famílias que recebem cestas básicas toda semana. No dia 13, completou 65 anos e, quando pergunto como conseguiu conciliar mundos tão distintos, me responde: “você nunca deixa de ser o que foi, uso tudo o que vivi e aprendi. Por exemplo, tive uma empresa de produção teatral que me ensinou muito sobre gestão. Não dispensei, nem desperdicei nada”, resume.

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