PF diz que provas reforçam suspeita de propina da JBS a Ciro Nogueira
Na reta final da investigação envolvendo o senador Ciro Nogueira (PP-PI) por suspeita de corrupção, a Polícia Federal (PF) afirmou que encontrou provas que reforçam a acusação de que o parlamentar teria recebido R$ 5 milhões em propina da JBS para levar o partido a apoiar a reeleição de Dilma Rousseff à Presidência em 2014. O delegado responsável pelo caso quer interrogar novamente o senador, aliado do governo Bolsonaro e integrante da CPI da Covid.
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Em um relatório parcial da investigação, enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF afirmou que, em função de todos os elementos investigados, “é possível vislumbrar que os depoimentos dos colaboradores Joesley Batista e Ricardo Saud restaram corroborados por provas autônomas”.
Entre as evidências coletadas pela PF, estão um procedimento da Receita Federal, que constatou indícios do repasse de propina, e depoimentos de testemunhas. Um deles foi prestado por Reginaldo Mouta de Carvalho, dono de um supermercado que tinha uma relação comercial com a JBS. O empresário confessou ter feito pagamentos a Gustavo Nogueira, irmão de Ciro, a pedido de Joesley Batista. Outra testemunha confirmou a propina em espécie.
Gustavo Nogueira disse, porém, que prestava serviços de consultoria e venda de imóveis pertencentes à Comercial Carvalho e seu proprietário. Em razão disso, houve novo depoimento para ouvir Reginaldo Carvalho. O empresário afirmou que de fato tratou da venda de imóveis com o irmão de Ciro em 2014, mas o negócio não se concretizou.
Em novos depoimentos prestados no início do ano, Joesley e Saud confirmaram a acusação de pagamento de propina para Ciro Nogueira em 2014 e narraram um novo repasse em 2016 para que o parlamentar adiasse uma reunião sobre a decisão de desembarque ou não do governo da então presidente Dilma Rousseff às vésperas do processo de impeachment.
Para que Ciro, que preside o PP, interferisse no curso desta reunião, Joesley disse à PF ter oferecido uma vantagem indevida — do total prometido, o parlamentar teria recebido R$ 500 mil em espécie, em março de 2017, mais de um ano depois da conversa.
O senador nega as acusações. À PF, ele disse que, em 2014, procurou empresários para conseguir recursos para o partido. De acordo com o parlamentar, Ricardo Saud, executivo da JBS, perguntou se seria possível o PP apoiar o tucano Aécio Neves contra Dilma, e ele respondeu que não.
Em depoimento, Saud disse que a proposta para apoiar Aécio foi apenas uma sondagem, e que não sabia que Joesley Batista tinha um acerto com o PT naquele momento. Mas confirmou que houve um acordo, mediante pagamento de propina, para apoiar Dilma Rousseff.
O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, negou as acusações feitas pelos delatores e as constatações da PF. O defensor ressaltou que o senador já foi ouvido e que “estranha que uma operação de 2019 ainda tenha fatos pendentes de investigação”. A nota diz ainda que o STF “tem se posicionado firmemente contra os excessos nas delações”.
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