O super Arthur Lira barra o impeachment e não é por amor ao Planalto
Por Marcio de Freitas*
O “superimpeachment” concede mais poderes a uma pessoa em Brasília, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL). É ele quem concentra, exclusivamente, a capacidade de dar seguimento às dezenas de solicitações de interrupção do mandato do presidente da República, Jair Bolsonaro. Agora chegam conjuntamente cartapácios com supostos crimes que justificariam a medida. E nada de andarem… nem um passinho para frente, nem pro lado.
Não passarão por Lira. E a razão latente dessa barragem inexpugnável (hoje) não é o amor que ele nutre pelo governo Bolsonaro. Lira ama o poder. E ama ainda mais o seu próprio poder, sobejamente exacerbado pela falta de traquejo da atual administração federal em cuidar de forma minimamente adequada de seu quadrado. Mas Lira, ao contrário, não se descuida de alimentar cotidianamente sua força.
Seu café da manhã começa com discussões de pauta sobre assuntos que mexem com a Faria Lima, passa por distribuição de recursos para agricultura no almoço, prensado por fatias da reforma tributária enquanto administra nos servidores doses de mudança na administração pública. E vai levando o dia todo assim, com reuniões de líderes e sessões plenárias virtuais.
O expediente é longo, consome os dias e entra noites ou madrugadas – em jantares com empresários, banqueiros, advogados, ministros. Para encerrar com relaxante dose de aconchego, Lira costuma receber conterrâneos para discutir problemas de municípios do interior de Alagoas… o poder vem das bases. E ele não se esquece.
O Congresso não exibia tanto poder na história recente. Até porque há um governo que abdicou de arbitrar os grandes debates nacionais e, portanto, conduzir os rumos do país. Lira percebeu o espaço vazio. E se inseriu no debate e na condução dos temas, e alguns não morrem porque ele os mantém vivos. É sua forma de alimentar o próprio poder, aditivado pela inapetência palaciana – que prefere a polêmica ao processo decisório.
Se Lira abrir o processo de impeachment, de um momento ao outro ele dividiria, imediatamente, com outros 200 parlamentares o poder que hoje concentra sozinho. O governo então teria que mirar nesse público para barrar um processo de impedimento, com ações pulverizadas. E cada um seria ouvido pela imprensa, assediado por ministros, buscado pelo presidente, bajulado com liberação de verbas extras. Lira abriria mão de poder para dar a outros, uma generosidade que nunca fez parte do métier político de Brasília.
É por isso que o impeachment não anda, pelas mãos de Lira. E também porque o Congresso percebeu o jogo e também entrou em campo. Se Lira concentra poder, e o Senado é a outra face do parlamento, o jogo se multiplica na proporção da delegação das missões. As matérias que chegam ao Congresso, ou ali surgem como pauta própria, são relatadas por deputados e senadores – escolhidos pelos presidentes das Casas. E estes têm sido ciosos dos 15 minutos de fama, e poder.
Lembrem o Orçamento, decidido dentro das Casas legislativas e imposto ao governo. Não foi o contrário, como costumava ser. O ministro da Economia, Paulo Guedes, ameaçou pegar o boné e ir embora para conseguir reverter parte do aumento de gastos que ameaçava o texto e o teto de gastos. Foi uma farra de acertos regionais. Que foi continuada na Medida Provisória da Eletrobras, escolhida pelos senadores para resolver não a questão de investimentos que solucionem os problemas de fornecimento de energia para os próximos anos, mas para definir ações eleitorais em paróquias. Não foi o governo que guiou o debate, mas a política. O Ministério da Economia tentou alguma ação, mas ficou feliz em pagar o preço de uma medida de custo elevado para justificar a manutenção da agenda liberal, com pagamentos em muitas prestações futuras.
O superimpeachment não se tornará realidade nas condições atuais. Apesar da crescente torcida. E isso porque os agentes que poderiam querer isso preferem não correr o risco de se curvar à natureza do escorpião. Melhor manter a relação utilitária com um sapo fraco do que perder o poder ao ser afogado num processo de destruição mútua, para deixar tudo nas mãos de um novo sapo, de poder renovado.
*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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