Sobre álcool, câncer, enrijecimento das artérias e compulsão
Três pesquisas diferentes apontam riscos e até um caminho para combater a dependência Resolvi reunir três pesquisas que tratam do consumo de álcool numa só coluna. Beber pode ser prazeroso e socialmente aceitável, mas esconde muitos riscos. Durante a pandemia, houve um crescimento de quase 94% nas vendas on-line e é por aí que puxo o fio da meada. Estudo divulgado semana passada afirma que o risco para o surgimento de câncer gastrointestinal está associado com a frequência com que as pessoas ingerem bebidas alcoólicas.
Pesquisadores se debruçaram sobre informações de 11 milhões de sul-coreanos, que se submeteram a exames entre 2009 e 2010 e foram acompanhados até o fim de 2017. O levantamento mostrou que o risco de câncer gastrointestinal estava significativamente associado com a frequência da ingestão de álcool. Na comparação entre níveis similares de consumo de bebida, o risco aumentava se a frequência era maior – ou seja, se a pessoa bebia mais vezes, ainda que o volume fosse menor. Por outro lado, o risco decrescia se a frequência diminuísse mesmo que, nessas ocasiões, a quantidade ingerida fosse maior.
Mulheres e homem bebendo: uma frequência maior do consumo de álcool está associada ao risco aumentado de câncer gastrointestinal
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Ontem, a Sociedade Europeia de Cardiologia fez o alerta: beber durante a adolescência e no início da vida adulta leva ao endurecimento e envelhecimento precoce das artérias, quadro que antecede a doença cardiovascular. O estudo teve 1.655 participantes entre 17 e 24 anos. O consumo de álcool era classificado em níveis que variavam de nunca a alto (mais de cinco drinques numa só ocasião). O de tabaco também foi medido, indo da condição de não fumante e ex-fumante a mais de dez cigarros por dia. Todos foram submetidos a um exame não invasivo chamado velocidade de onda de pulso, que mede o estado de rigidez das artérias – quem quiser saber como funciona, pode conferir aqui. Foi observado um aumento médio de 10.3% no endurecimento das artérias desses jovens associado às duas drogas.
Por último, a descoberta de um mecanismo que está por trás do consumo compulsivo de álcool talvez possa levar a ciência a solucionar o problema: há um pequeno grupo de células nervosas no cérebro que sustentam a motivação para beber mesmo quando há consequências negativas. Essa foi a conclusão de estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Linköping, na Suécia. No laboratório, cobaias aprenderam a pressionar uma alavanca para obter uma pequena dose de álcool. Depois as condições mudaram e, quando os ratinhos acionavam a alavanca, recebiam uma descarga elétrica. A maioria desistiu, mas um terço persistiu na ação, ainda que fosse associada ao desconforto.
Os cientistas usaram um marcador para mapear que células eram ativadas, e elas se concentravam na amígdala cerebral, responsável pelo mecanismo de aprendizado. O passo seguinte foi “desligar” geneticamente tais células, o que permitiu que os ratinhos dependentes tivessem o comportamento dos demais, que era o de evitar o choque. Publicado na revista científica “Science Advances”, o trabalho pode ser um primeiro passo para a criação de um medicamento contra a dependência.