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A carta que iluminou a fronteira da racionalidade

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A carta que iluminou a fronteira da racionalidade

A publicação da carta aberta O País exige respeito; a vida necessita da ciência e do bom governo, que cobra uma postura racional do governo federal no enfrentamento da pandemia do coronavírus, está funcionando como um facho de luz para traçar a fronteira da racionalidade no mundo empresarial e financeiro. É fundamental destacar que, primeiramente, a carta é um grande exemplo prático de postura responsável « ESG », que muitas empresas, instituições, empresários e executivos dizem buscar.

De um lado, estão pessoas como Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles (co-presidentes do conselho de administração do Itaú Unibanco), José Olympio Pereira (presidente do Credit Suisse), Solange Srour (economista-chefe do Credit Suisse) e Octavio de Barros (antigo economista-chefe do Bradesco).

Também se contam, entre os signatários, ex-presidentes do Banco Central — como Armínio Fraga, Affonso Celso Pastore, Gustavo Loyola e Ilan Goldfajn — e ex-ministros da Fazenda, como Pedro Malan, Marcílio Marques Moreira e Ruben Ricupero, além de mais 500 outros, que assinaram a carta até o domingo 20/03 à noite, quando ela sofreu um ataque de hacker e teve que sair do ar.

Juntam-se a essas pessoas que já assinaram milhares de empresários, economistas, executivos e profissionais liberais, que estão compartilhando a carta e manifestando o seu apoio, pois entendem que as suas recomendações são baseadas em evidências das sociais e econômicas. Entre estes, muitos, eu diria que possivelmente uma maioria, que votaram no presidente Bolsonaro no segundo turno em 2018.

Isso não impede que essas pessoas enxerguem que o País não tem conduzido o combate à pandemia tomando as medidas que a maioria absoluta das democracias ocidentais vêm aplicando. Gente que entendeu o quando custa e vai custar o nosso atraso nas vacinas, a falta de coordenação das medidas de isolamento e mais importante: a compressão de que, sem resolver a crise na saúde, não vamos resolver a economia.

Do outro lado, vemos um movimento silencioso em vários grupos de WhatsApp, de empresários que atacam a carta, reclamando especialmente da ênfase do pedido de coordenação de isolamento como uma medida necessária. Esse lado do debate insiste em procurar uma solução fácil para a saída da crise, que não envolva isolamento e eventuais fechamentos de comércios e empresas com restrições de circulação.

Nesse polo abundam as mensagens de remédios milagrosos, declarações de médicos fora de contexto ou puros desconhecidos, contra o isolamento e a favor de tratamentos preventivos ou precoces como solução. Também existe o apoio à narrativa de que as medidas de prevenção à COVID vão matar mais gente de fome. A soma de tudo isso faz esse grupo ver o Presidente como o seu defensor e líder.

Existe uma interseção entre os dois grupos: gente que faz ou ajuda em ações que minimizam o impacto da pandemia entre os mais vulneráveis, o que é louvável, mas não elimina a existência dessa divisão nem autoriza ninguém a saltar de um lado para outro. O investidor Leandro Ruschel, que é um dos mais fiéis e convictos apoiadores de primeira hora do presidente, manifestou-se, classificando a carta como “na verdade um pedido de mais socialismo para o Brasil.” Teve a coragem de ter sido claro do lado que está no debate.

O grande mérito da carta foi iluminar essa fronteira, mostrar a diferença entre essas percepções e posicionamentos. Forçar todos a que assumam uma posição de qual lado vão querer ser lembrados que estiveram quando tudo isso passar, pois vai passar. O fundador do Madero, Junior Durski, fez uma declaração negando a gravidade da pandemia, que o colocou como símbolo do segundo grupo. Felizmente ele já veio a público se corrigir, recentemente, dizendo que as medidas de contenção do vírus devem ser tomadas por quem tem os dados, no caso, os governos, e que ele vai fazer o que for recomendado.

E você, em qual lado vai querer ser lembrado? Qualquer que seja, essa lembrança será inevitável.

*Paulo Dalla Nora Macedo é economista e investidor em inovação

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