Após doação de empresas, Queiroga cobra ação de estados na compra do kit intubação: 'Não é só empurrar para as costas do ministério'

Ministério não divulgou total de medicamentos obtidos pelo governo federal para contornar falta de material em UITs. Queiroga usou doação da Vale para sugerir que “grandes estados” também podem buscar fornecedores. Marcelo Queiroga, ministro da Saúde, em 23 de março de 2021
Ueslei Marcelino/Reuters
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, cobrou nesta quinta-feira (15) que “grandes estados” do Brasil tenham protagonismo na compra de medicamentos do chamado “kit intubação”, que são as drogas usadas para manter pacientes em leitos de UTI com respiração artificial. Queiroga disse que é hora de “sair do Twitter” e “responder a sociedade com políticas públicas”.
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Nas últimas semanas, o Ministério da Saúde tem sido alvo de cobranças de secretários de saúde de estados (e até de entidades que representam hospitais privados) para fornecer o suprimento dos medicamentos do “kit intubação”.
Com o avanço da Covid-19 e a lotação dos hospitais, aumentaram os relatos da falta de remédios pelo país. Na cobrança mais recente, o governo de São Paulo pediu o envio em até 24 horas dos medicamentos para evitar colapso no atendimento.
Sem citar o nome do estado, Queiroga cobrou ação conjunta e disse que estados podem fazer mais sobre o tema.
“Os próprios governadores, sobretudo dos grandes estados, poderiam buscar esses medicamentos no mercado nacional ou internacional. Eles têm elementos para fazer isso. Não adianta só ficar enviando ofício para o ministério. Temos que trabalhar juntos. E os governadores sabem que têm encontrado parceria contínua do MS”, disse Queiroga.
O ministro usou o anúncio de entrega da doação de 2,3 milhões de unidades dos medicamentos do kit intubação liderada pela Vale para dizer que é possível fazer as compras. “Não é só empurrar isso para as costas do Ministério da Saúde. Por que grandes estados não fazem isso?”, disse Queiroga.
O Ministério da Saúde não divulgou dado sobre o total de medicamentos comprado pela pasta.
Impacto da doação no atendimento
Representantes do ministério concederam entrevista coletiva nesta tarde para anunciar a chegada da doação de 2,3 milhões de medicamentos feita por empresas lideradas pela Vale. De acordo com a empresa, a previsão é doar “3,4 milhões de medicamentos para intubação, quantidade suficiente para a gestão de 500 leitos pelo período de um mês e meio”.
Durante a apresentação, o Ministério da Saúde não informou qual o total de leitos é possível atender com as 2,3 milhões de unidades. Perguntado durante a entrevista, o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde, Hélio Angotti Neto, disse que há diferenças entre os protocolos de uso entre hospitais.
Em sua apresentação, Hélio Angotti citou que há estimativa de que o tempo de cobertura seja de 15 dias para o medicamento propofol e de 10 dias para os medicamentos cisatracúrio, midazolam e fentanil.
O carregamento deve chegar nesta noite ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. O governo acredita que, em até 48 horas, todos os medicamentos já tenham sido entregues aos estados.
Requisição administrativa
Hélio Angotti negou que o governo – que em agosto cancelou uma compra de remédios – tenha demorado a agir. “Não houve em nenhum momento um desativamento das ações contingenciais de emergência. Monitoramos continuamente essas demandas. Quando surgiu, foi um crescimento exponencial dos casos, e os mecanismos de controle foram disparados no ministério”, disse o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde.
O secretário lembrou que a “requisição administrativa”, que foi a exigência de que as fábricas repassassem para o governo os medicamentos, não afetou contratos existentes. “O que foi requisitado retorna aos próprios estados para harmonizar os estoques”, disse Hélio Angotti.
No fim de março, a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) disse que “houve uma desorganização na cadeia de suprimentos que foi causada por conta dessa requisição administrativa”. A entidade cobrava ação do ministério para aliviar as dificuldades que atingiam hospitais de todos os portes.
