Atacado por Bolsonaro, home office é adotado por 143 mil servidores da União
Um em cada quatro servidores do Executivo federal terminou o ano de 2020 trabalhando em home office integral, a mesma modalidade adotada pelo presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, que foi acusado pelo presidente Jair Bolsonaro de ficar “11 meses sem trabalhar”.
A principal razão: reduzir a circulação de pessoas e os riscos de contágio pelo novo coronavírus, atendendo as recomendações de epidemiologistas e outros especialistas.
Além disso, 35 órgãos do governo já aderiram ao programa que vai colocar o teletrabalho como opção permanente na administração pública. Quatro deles estão dentro do Palácio do Planalto: Casa Civil, Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Secretaria-Geral da Presidência e Secretaria de Governo.
Tanto a Câmara como o Senado também adotaram o regime de trabalho em 2020, com votações e discussões realizadas de forma virtual.
A pedido do Estadão/Broadcast, o Ministério da Economia informou que havia 142.995 servidores federais do Poder Executivo em trabalho remoto integral no mês de dezembro de 2020, último levantamento realizado pela pasta. O número representa 23,8% dos 599,9 mil funcionários ativos no mesmo período.
Descontente com a política de preços de combustíveis adotada pela Petrobras, Bolsonaro anunciou a demissão de Castello Branco do comando da companhia no último dia 19 e passou a criticá-lo de várias formas, entre elas por estar em regime de trabalho remoto.
“O atual presidente da Petrobrás está há 11 meses em casa, sem trabalhar. Trabalha de forma remota. O chefe tem que estar na frente, bem como seus diretores. Isso para mim é inadmissível. Descobri isso faz poucas semanas”, afirmou o presidente na segunda-feira passada.
As declarações de Bolsonaro geraram indignação dentro da Petrobras porque o presidente da companhia tem 76 anos e está no grupo de risco para a covid-19.
Em sua primeira aparição pública após ser demitido, Castello Branco afirmou que o regime de teletrabalho gerou ganhos de produtividade e redução de custos, além de ter contribuído para diminuir a contaminação pelo novo coronavírus na empresa. A sua gestão tem sido marcada pela melhora de diferentes indicadores operacionais e financeiros, como o custo de extração e o endividamento.
Os ganhos de produtividade e a redução de custos são justamente os efeitos buscados pelo Executivo federal ao adotar o trabalho remoto como prática permanente. No ano passado, o governo economizou 1,5 bilhão de reais ao deixar de gastar com diárias, passagens, conta de luz e água e cópias e reprodução de documentos, além de despesas com auxílio-transporte, horas extras, entre outros benefícios a servidores.
Home office definitivo na União
Para 2021, a previsão é poupar um valor ainda mais significativo, pois a migração definitiva para o teletrabalho vai permitir ao governo se planejar para a revisão de aluguéis e a ocupação de espaços físicos.
Em dezembro, o secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Caio Paes de Andrade, estimou que dos cerca de 600 mil servidores em atividade no Executivo, aproximadamente 200 mil estão em posições que, a princípio, se encaixariam no modelo de trabalho remoto. Não significa que todos eles migrarão para o home office. Antes disso, dois passos são essenciais: o órgão aderir, apontando quais atividades podem ser exercidas a distância, e o servidor manifestar desejo pela mudança.
Entre os 35 órgãos que já aderiram estão 11 agências reguladoras, o Banco Central, os ministérios da Economia, do Desenvolvimento Regional, da Cidadania, de Minas e Energia, as quatro pastas abrigadas no Palácio do Planalto (Casa Civil, Secretaria-Geral, Secretaria de Governo e GSI), além de fundações, institutos e superintendências ligadas a essas estruturas.
A implantação do chamado Programa de Gestão (PGD) inclui o trabalho realizado de forma presencial, híbrida e teletrabalho. Oito órgãos já concluíram a implantação do sistema informatizado que fará a gestão do PGD.