Cientistas buscam biomarcadores para intervir precocemente no envelhecimento

“Queremos substituir o declínio que ocorre com o passar dos anos por saúde”, afirmou o geriatra Thomas Jackson Capitaneada pela Universidade de Oxford, a UK Spine é uma espécie de consórcio que reúne pesquisadores dos mais importantes centros de referência do Reino Unido, com o objetivo de compartilhar informações e descobertas que promovam o envelhecimento saudável. Na semana passada, o primeiro dia da conferência anual da organização foi dedicado aos biomarcadores, que são os indicadores da presença de alguma doença – como os exames de sangue, por exemplo.
E por que a gerociência, cujo objeto de estudo é a velhice, está tão interessada em biomarcadores? Os cientistas querem aperfeiçoar os testes para tentar mapear os problemas em nível celular. Dessa forma, poderiam antecipar diagnósticos e tornar os tratamentos mais eficazes. “Queremos substituir o declínio, que normalmente ocorre com o passar dos anos, por saúde. Não se trata de estender a existência, mas de garantir uma vida saudável até o fim”, afirmou o geriatra Thomas Jackson, do Institute of Inflammation and Ageing, da Universidade de Birmingham. Acrescentou que, acima dos 50 anos, metade das pessoas – ele se referia aos britânicos – não apresenta multimorbidades (duas ou mais doenças crônicas simultâneas), sarcopenia (perda de massa muscular) ou fragilidade, servindo como inspiração para um envelhecimento livre de maiores complicações.
Wen Hwa Lee: especialista em degeneração macular e um dos participantes do evento
Divulgação
“Através de biomarcadores, poderemos fazer não somente o diagnóstico, mas também previsões sobre o que deve acontecer e como intervir, porque estaremos mapeando os aspectos biológicos do indivíduo, como as células estão se comunicando, reagindo. No entanto, há uma questão ética: o que as pessoas vão efetivamente querer saber?”, completou. Na sua opinião, a meia-idade seria o período crucial para se detectar alterações e lançar mão de terapias preventivas, o que inclui mudanças no estilo de vida: “quando falamos da demência pela Doença de Alzheimer, o acúmulo anormal de proteínas começou 20 anos antes, é na meia-idade que temos que buscar as respostas”.
É verdade que já dispomos de inúmeros biomarcadores, mas os cientistas perseguem a solução ideal: testes baratos, que possam ser feitos em grande escala e que, ainda por cima, não assustem quem tem medo de agulhas. Essa foi a pergunta que abriu a discussão de uma mesa-redonda com quatro especialistas: Janet Lord, Ranulf Crooke, Sara Ward e Wen Hwa Lee. Este último, referência mundial no combate à degeneração macular, chamou a atenção para o potencial dos exames oftálmicos: “o olho é uma extensão do cérebro, uma janela transparente. Uma avaliação relativamente simples é capaz de identificar a perfusão, o estado da microvascularização e quadros neurodegenerativos. Isso poderia ser feito em minutos, em óticas espalhadas pela cidade, facilitando o acesso de todos”. O grupo concordou num ponto: é fundamental que os idosos sejam ouvidos e digam o que consideram envelhecer bem. “O envelhecimento é heterogêneo, não podemos usar uma só medida para todos”, finalizou Lord.
