Coronavírus: neandertais e pacientes graves de Covid-19 têm gene 'quase idêntico'
Novo estudo afirma que alto fator genético em pessoas gravemente doentes com covid-19 pode vir de neandertais. O cruzamento entre sapiens e neandertais pode ter ocorrido várias dezenas de milhares de anos atrás.
Getty Images/via BBC
Do cruzamento com os neandertais, nossos primos na evolução, os seres humanos herdaram pelos e cabelos mais grossos para se proteger melhor do frio, além de um sistema imunológico mais forte.
Mas também adquirimos genes que nos tornam propensos a sofrer mais com certas condições de saúde.
O último deles poderia ser a Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.
Essa informação foi confirmada por um estudo conjunto dos institutos Karolinska em Estocolmo, na Suécia, Instituto de Antropologia Evolutiva Max Planck, na Alemanha, e o Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa, no Japão.
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De acordo com a pesquisa, um número considerável de pacientes graves com covid-19 compartilha um segmento de DNA muito semelhante ao Homo neanderthalensis.
É “praticamente idêntico”, diz Hugo Zeberg, co-autor do estudo e professor de neurociência do Instituto Karolinska.
Esse segmento genético persiste em cerca de 50% das pessoas no Sudeste Asiático e em 16% dos europeus.
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A pesquisa, publicada na revista Nature, estima que carregar esse fragmento de DNA poderia triplicar o risco de hospitalização e agravamento do quadro de saúde após a infecção pelo coronavírus.
‘Praticamente idêntico’
As semelhanças encontradas por Hugo Zeberg e seu colega Svante Pääbo são quase totais.
O grupo genético em questão, encontrado no cromossomo 3, é “praticamente idêntico” ao dos neandertais, com apenas algumas posições diferentes “em um segmento de DNA de 50 mil pares de bases”, explicou Zeberg à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
O estudo envolveu 3.199 pacientes, principalmente na Europa. Os resultados atestam que este é o maior fator de risco genético em casos graves de covid-19 em que as pessoas foram hospitalizadas.
Vários estudos científicos afirmam que essa herança genética foi produzida por relações sexuais esporádicas entre o Homo sapiens e neandertais dezenas de milhares de anos atrás.
“Todas as pessoas que não têm raízes ancestrais da África carregam cerca de 2% de DNA de neandertal”, explica Zeberg.
Essa herança é especialmente notável no sudeste da Ásia, onde 50% dos habitantes são portadores desse gene. Em Bangladesh, esse número sobe para 63%.
Outros fatores de gravidade
A gravidade da infecção por coronavírus não é determinada exclusivamente pela genética. Outras condições entram em jogo, especialmente a idade dos infectados.
Devemos várias doenças atuais à herança neandertal, mas também um sistema imunológico mais preparado para combater as infecções.
Getty Images/via BBC
Apesar de as heranças dos neandertais serem maiores no Sudeste Asiático do que na Europa — 50% contra 16% da população — “a idade média na Índia é de 27 anos e na Espanha, de 45 anos”, exemplifica Zeberg.
“Há muito mais idosos na Europa do que no Sul da Ásia e outros fatores entram em jogo, como hábitos sociais e a forma como os países respondem à pandemia”, acrescenta o acadêmico.
Na Espanha, há uma média de 69 mortes por covid-19 por 100 mil habitantes. Enquanto isso, na Índia, cerca de oito pessoas morrem na mesma amostra, de acordo com dados recentes da Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos.
Trilha neandertal
Estudos anteriores examinaram a influência dos neandertais em nossa composição genética.
Várias doenças atuais, como diabetes ou a doença de Crohn, podem ter origem em nossos primos no passado.
Também diferentes mecanismos de defesa com os quais lutamos contra vírus e infecções, conforme apresentado em um estudo da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, em 2018.
À lista do legado dos neandertais é agora adicionado o fator de risco para adoecimento grave por coronavírus, uma descoberta que pode ter implicações positivas no futuro.
“Não por saber a origem do neandertal por si só, mas a associação genética é importante. Pode ajudar na identificação de alvos para futuros medicamentos”, finaliza Zeberg.
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