Em documentário sobre a mãe, cineasta aborda preconceito e insegurança financeira
“Duty free” mostra as dificuldades de uma mulher de 75 anos que perde o emprego, mas também as descobertas que faz ao lado do filho O que fazer quando sua mãe, de 75 anos, perde um emprego do qual depende para fechar as contas do mês porque não tem nenhuma reserva financeira e, ainda por cima, é a responsável por seu irmão mais velho, que sofre de esquizofrenia? O jornalista Sian-Pierre Regis transformou a própria mãe, Rebecca Danigelis, em protagonista do documentário “Duty free”, que discute o preconceito contra idosos e insegurança financeira, mas também é uma homenagem à resiliência e à vida.
Sian-Pierre Regis e Rebecca Danigelis: o jornalista transformou a própria mãe em protagonista do seu documentário
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O filme fez parte da programação do 2021 do Age+Action, uma iniciativa do Conselho Nacional para o Envelhecimento (NCOA em inglês), criado nos EUA com o objetivo de fomentar condições para que todos tenham o direito de envelhecer com saúde e segurança financeira. Ilustra bem a situação de cerca de 25 milhões de norte-americanos que não têm qualquer poupança para se manter na velhice – no Brasil, estima-se que 90% não guardam dinheiro para a aposentadoria.
Dispensada do cargo de supervisora dos serviços de housekeeping (arrumação e limpeza) de um hotel, Rebecca recebe o equivalente a duas semanas de salário e o aviso de que teria um ano para deixar o pequeno apartamento que ocupava no mesmo prédio. Suas economias haviam sido usadas para bancar os estudos de Regis que, aos 32 anos e igualmente sem poupança, decide que é hora de mostrar a gratidão que sente por todos os sacrifícios que ela fez e resgatar sua autoestima.
O ponto de partida para a jornada de mãe e filho é uma lista de desejos de Rebecca: coisas que vão da abertura de uma conta no Instagram a fazer uma aula de hip hop; de ordenhar uma vaca a visitar a Inglaterra, sua terra natal e lugar onde vive a primogênita, fruto do primeiro casamento, que não vê há dez anos. O passo seguinte é uma vaquinha virtual que arrecada o suficiente para acompanharmos as aventuras da dupla – o ápice é o aniversário de 77 anos, comemorado com um voo de paraquedas no Havaí.
O documentário acompanha a batalha de Rebecca para se familiarizar com as redes sociais e conseguir um novo emprego, até ter êxito num hotel em Nova York, onde Regis mora. Também exibe momentos dramáticos, como a entrevista com Joanne, a filha que deixou aos cuidados da irmã, porque estava sozinha e doente nos EUA. Ficam claras as marcas emocionais dessa separação. Retratada em diversas reportagens, tornou-se uma celebridade, com mais 47 mil seguidores no Instagram, muitos em situação semelhante: pessoas qualificadas que não conseguem um lugar no mercado de trabalho porque passaram dos 60 anos. Quando o filme acaba, fica a vontade de que todos possam ter sua lista de desejos realizada.
“Duty free” aborda o preconceito contra idosos e insegurança financeira
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