Fabricante reforça dúvidas sobre ambições da UE na produção de chips
O plano da União Europeia de se tornar uma potência na produção de semicondutores de próxima geração terá pouco efeito para ajudar as indústrias vitais da região, disse na quinta-feira uma das maiores fabricantes de chips europeias.
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“Achamos que a Europa deve se concentrar em trazer tecnologia moderna, mas não de ponta” para atender à demanda local, disse Helmut Gassel, diretor de marketing da Infineon Technologies, em entrevista.
A escassez de chips se espalha por todos os setores, o que dificulta atender à demanda por produtos como carros, consoles de jogos e geladeiras. A UE quer dobrar a produção de chips para pelo menos 20% da oferta global na próxima década.
A abordagem visa impulsionar o design e a produção de chips de 20 a 10 nanômetros com a ajuda de uma aliança europeia de fabricantes de semicondutores, centros de pesquisa e governos nacionais. O segundo objetivo é direcionar a produção de chips com menos de 5 nanômetros até 2 nanômetros, uma meta ambiciosa ainda não alcançada por líderes da indústria, como Taiwan Semiconductor Manufacturing e a coreana Samsung Electronics.
Mas os objetivos em relação à produção de chips de ponta, que são mais caros de fabricar, geraram ceticismo no setor. O declínio da indústria de eletrônicos da região nas últimas décadas deixou a Europa sem clientes óbvios para esses componentes, menores e mais potentes. As montadoras, cujos veículos têm espaço para usar chips maiores, respondem pela maior parte da demanda por semicondutores, mas em níveis mais maduros.
Apenas carros totalmente autônomos seriam capazes de tirar vantagem do maior poder de computação encontrado nos chips mais avançados, disse Gassel. A fabricante alemã de chips é uma das maiores fornecedoras mundiais de chips automotivos.
“A grande maioria, senão todos os componentes de um carro hoje e nos próximos cinco anos, não terá nenhum benefício com algo abaixo de 20 nanômetros”, disse Gassel.
Um porta-voz da Comissão Europeia não respondeu de imediato a um pedido de comentário. O comissário da Indústria da UE, Thierry Breton, tem visita programada à fabricante holandesa de equipamentos de chips ASML na quinta-feira.
O CEO da STMicroelectronics, Jean-Marc Chery, fez comentários semelhantes sobre as ambições da UE. “Se tiver a ver com tecnologias avançadas, não temos nenhum motivo para participar”, disse em entrevista ao canal de notícias francês BFM TV neste mês. “Isso é marginal para nossas atividades.”
Gassel disse que se os planos da aliança fossem mais direcionados ao ecossistema europeu, incluindo a produção automotiva, industrial e Internet das Coisas, a empresa estaria disposta a participar.
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