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Guru dos mercados alerta para 'riscos gêmeos' à economia global

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Guru dos mercados alerta para 'riscos gêmeos' à economia global

Para Ruchir Sharma, chefe de mercados emergentes e estrategista-chefe global do Morgan Stanley Investment Management, o maior controle da China sobre o setor de tecnologia e a possibilidade de que consumidores dos Estados Unidos economizem mais do que gastam são riscos gêmeos para a recuperação econômica mundial.

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Sharma, que é autor de best-sellers como “Os Rumos da Prosperidade”, de 2012, e “The Rise and Fall of Nations”, de 2016, não prevê um colapso global. Mas alerta que o consenso de uma forte expansão pode estar negligenciando os riscos que podem desacelerar o crescimento mais cedo do que o esperado.

O estrategista-chefe indiano chama os riscos gêmeos de “linhas de falha” (fault lines, em inglês), expressão que define rachaduras na litosfera que dão origem a terremotos.

Uma década atrás, a expressão deu nome a um livro clássico de análise da economia pós-crise financeira de 2008, do seu compatriota Raghuran Rajan: “Linhas de Falha. Como Rachaduras Ocultas Ainda Ameaçam a Economia Mundial”.

A seguir, veja trechos da entrevista com Sharma, que publicou recentemente outro livro, “The 10 Rules of Successful Nations”.

Como o senhor avalia a recuperação econômica global?

Estou um pouco preocupado devido a um consenso muito forte de que devemos esperar um grande boom econômico. As estimativas de crescimento ainda estão muito altas. Então, o que pode dar errado é uma pergunta que me incomoda, e o mercado de títulos parece estar fazendo a mesma pergunta. Existem duas “linhas de falha” em desenvolvimento neste boom econômico global, sobre as quais precisamos ser cautelosos.

Quais seriam essas linhas de falha?

Uma tem a ver com a China. O escrutínio do setor de tecnologia é grande, e a política regulatória exerce um efeito restritivo, como vimos historicamente. A economia digital, segundo algumas estimativas, agora responde por 40% do PIB da China. Esse número era de 10% há uma década. Estou um pouco preocupado — se houver repressão — com qual será o impacto sobre o crescimento econômico e até onde isso irá. Isso, para mim, é uma grande preocupação para as previsões econômicas globais.

Qual é sua outra preocupação?

Nos Estados Unidos, as pessoas acreditam que os gastos fiscais diminuirão e todos acham que tudo bem, porque as condições dos consumidores são boas e isso será compensado.

O problema é que, se você olhar para a última vez em que os consumidores tiveram tais benefícios, após a Segunda Guerra Mundial, acabaram economizando muito desse dinheiro em vez de gastá-lo. E se o consumidor acabar economizando grande parte desses ganhos como da última vez? Ao mesmo tempo, muitos consumidores ainda estão assustados com a crise de 2008.

O senhor tem um prazo para a desaceleração da recuperação?

Ainda sinto que a recuperação ainda tem um longo caminho a percorrer porque, à medida que a vacinação se acelera nos mercados emergentes, o desempenho deles vai melhorar. Portanto, acho que a recuperação global pode não ter atingido o pico ainda.

Mas me preocupa que os dois grandes motores de crescimento possam ser menos robustos do que pensávamos, e isso significa que a recuperação pode atingir um pico muito mais rápido do que o consenso espera hoje. Não antecipo uma crise global, mas o consenso hoje é muito forte de que teremos um boom econômico global. Estou procurando as falhas na sabedoria convencional.

O que a retirada de estímulos do Federal Reserve significaria para os mercados emergentes?

Acredito no antigo ditado de que a história não se repete tão rapidamente. Muitas pessoas têm “o medo de 2013” (quando os sinais de retirada do estímulo do Fed abalaram o mercado), mas acho que os fundamentos são diferentes. Sim, existem alguns mercados emergentes que são vulneráveis, mas esses são os mercados de fronteira menores.

Eu diria que se você olhar para os grandes mercados emergentes, a vulnerabilidade é menor desta vez, em termos de déficits em conta corrente e situações de dívida externa. Está muito mais calmo agora. Sou muito mais construtivo hoje do que há uma década sobre os mercados emergentes.

Por que está menos preocupado com os mercados emergentes?

Para mim, devido à expansão do ciclo das commodities e ao fato de que o custo da adoção de novas tecnologias caiu muito e estão sendo adotadas muito rapidamente em mercados emergentes, incluindo alguns dos países mais pobres. Acho que isso me deixa muito otimista sobre o que pode impulsionar o crescimento dos mercados emergentes nos próximos anos.