Lou Ottens, criador da fita cassete, morre aos 94 anos
Na década de 1960, surgiu no mercado um “gadget” chamado fita cassete. Percursora do CD, revolucionou a maneira como se escutava música décadas antes do streaming dominar este mercado. O responsável por comandar o time que criou a famosa K-7 foi engenheiro holandês Lodewijk Frederik Ottens, conhecido como Lou Ottens.
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Aos 94 anos, ele faleceu no último sábado em sua casa na vila de Duizel, na província holandesa de North Brabant. A morte, no entanto, só foi divulgada pela família na quarta-feira.
Como gerente de desenvolvimento de produtos da Philips, Ottens revolucionou duas vezes o mundo da música. Além da fita cassete, ele fez parte da equipe que desenvolveu o CD, outra inovação que vem caindo em desuso com o avanço da tecnologia.
Em recente entrevista, ele comparou a busca por novidades no universo musical à prática de esportes:
— Éramos meninos que nos divertíamos brincando. Não sentíamos que estávamos fazendo nada grande. Era uma espécie de esporte — disse ele, segundo reportagem do jornal britânico The Guardian.
Sucesso com gravador portátil
Nascido em 21 de junho de 1926, pode-se dizer que Ottens ingressou no mundo da tecnologia no período da Segunda Guerra Mundial, quando, ainda adolescente, construiu um rádio para sua família.
Pelo aparelho, ele e seus pais puderam acompanhar Rádio Oranje durante a ocupação da Holanda pela Alemanha.
Após a guerra, Ottens formou-se em engenharia e começou a trabalhar em 1952 na fábrica da Philips em Hasselt, na Bélgica. Oito anos depois, foi promovido a chefe do recém-criado departamento de desenvolvimento de produtos da empresa e, em um ano, revelou o EL 3585, o primeiro gravador portátil da Philips, que venderia mais de um milhão de unidades.
Segundo o Guardian, foi dois anos depois que Ottens fez a maior descoberta de sua vida que revolucionaria a música, tornando-a mais acessível e democrática. O motivo: estava farto dos grandes e desajeitados gravadores da época que utilizavam sistemas de bobina.
— A fita cassete foi inventada por causa da irritação com o gravador existente, é simples assim — diria mais tarde.
Ottens queria produzir uma maneira mais compacta e acessível para as pessoas ouvirem música, em vez de recorrerem a equipamentos pesados que usavam grandes fitas de cartucho ou discos de vinil naquela época.
Menor que maço de cigarros
A ideia do engenheiro era que a fita cassete coubesse no bolso interno de sua jaqueta. O primeiro protótipo foi um compartimento de madeira, mas o primeiro cassete realmente portátil surgiu apenas em 1963. A novidade foi apresentada ao mundo em uma feira de eletrônicos em Berlim com o slogan “Menor que um maço de cigarros!”
O primeiro protótipo foi um compartimento de madeira que caberia dentro do bolso, mas o primeiro cassete realmente portátil surgiu apenas em 1963. Desde então, foram vendidas mais de 100 bilhões de unidades.
Ottens também convenceu a Philips a não guardar o projeto apenas para si, permitindo que outras fabricantes usassem gratuitamente a tecnologia licenciada pela empresa belga.
A K-7 pavimentou o caminho para o icônico walkman, que permitia ouvir músicas em qualquer lugar ao colocar a fita dentro de uma caixinha que reproduzia os discos.
Em 1972, Ottens tornou-se diretor de áudio do Philips ’NatLab, onde se envolveu na próxima grande inovação musical: o CD. Uma colaboração foi firmada com a Sony e, em 1980, o CD padrão Philips-Sony de 12 cm estava pronto para o mundo.
Mais de 200 bilhões de CDs foram vendidos até agora. Quando questionado sobre seu maior arrependimento, Ottens lamentou que a Sony, e não a Philips, tivesse lançado o primeiro walkman.
— Ainda dói não termos um — lamentou.