Mercado continua alheio ao potencial de consumo dos 50 mais
Estudo da Fundação Dom Cabral mostra o impacto da economia prateada nos negócios Na semana passada, foi divulgado estudo sobre o impacto da economia prateada na inovação e nos negócios. Realizado pela Fundação Dom Cabral (FDC), que tem um braço dedicado à longevidade, e pela Hype50+, o trabalho mostra, com todos os números e letras, a dimensão do mercado de consumidores maduros – e como este continua sendo visto com lentes míopes por empreendedores e investidores.
“O conceito de velho ficou velho”, disse Layla Vallias, cofundadora da Hype50+. “Há uma geração que nem imaginava chegar tão bem à casa dos 60 ou 70 anos, que se permite autoindulgências e quer se divertir. Isso se aplica a todas as classes e raças. São pessoas ativas, que usam internet com desenvoltura, e é preciso saber encantar esse público, com novos serviços financeiros, educacionais e de saúde”, completou.
Mercado 50 mais: à espera de produtos e serviços
Ahmad Ardity para Pixabay
Há uma diferença entre a economia prateada e a economia da longevidade: a primeira representa o consumo dos 50 mais e, de acordo com a Oxford Economics Group, empresa de consultoria e análise, equivaleria à terceira economia do mundo, só atrás da dos EUA e da China. Já a segunda engloba os produtos e serviços que visem à construção de uma existência longa e ativa, o que pode incluir todas as faixas etárias. Quando se fala de Brasil, em estados como o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, o contingente acima dos 60 excede o de crianças e adolescentes até os 14 anos, e o mercado prateado deve movimentar cerca de R$ 1.8 trilhão em 2020, segundo o Instituto Locomotiva.
De acordo com o estudo, apesar de terem dinheiro e vontade de consumir, quatro em cada dez brasileiros 55 mais reclamam que faltam produtos e serviços que satisfaçam suas demandas. É a mesma avaliação do investidor Edson Rigonatti, autor de “A jornada do empreendedor: o herói da nossa era”, em parceria com Laura Constantini e Martino Bagini, e um dos entrevistados para o levantamento: “os fundos têm dinheiro, estão esperando bons produtos”.
O professor Carlos Arruda, da FDC, afirmou que, para a faixa entre 60 e 70, os produtos não deveriam focar apenas na área da saúde: “um bom exemplo são as soluções financeiras diversificadas, assim como serviços de lazer, entretenimento e oportunidades para usar o conhecimento”. A invisibilidade dos maduros é visível nas campanhas publicitárias, que não incluem personagens dessa faixa etária; e nos pontos de venda, que não levam em conta acessibilidade, a iluminação das lojas e o atendimento.
Regras de ouro que deveriam ser seguidas: em primeiro lugar, os mais velhos são diversos, não se pode pensar neles como um bloco; é fundamental usar imagens de gente real, com quem é possível se identificar; o design é rei, a usabilidade rainha, ou seja, tenha bom gosto e simplifique sua utilização. Por último, um conselho: nunca usar a expressão “melhor idade”. O estudo prefere “maduros”, porque remete a experiência, no lugar de idosos. Infelizmente, isso é um sinal do preconceito, tão internalizado, que as próprias pessoas rejeitam a nomenclatura que define a fase da vida na qual se encontram.