Ministério cancelou em agosto compra de medicamentos do 'kit entubação', aponta Conselho de Saúde
Recomendação 54 foi emitida em 20 de agosto de 2020. No documento, conselho mencionava risco de desabastecimento, como ocorre atualmente. Profissional de saúde trata paciente com Covid em UTI do Hospital São Paulo, em São Paulo, no dia 17 de março.
Amanda Perobelli/Reuters
O Ministério da Saúde cancelou, em agosto de 2020, uma compra internacional de medicamentos para o chamado kit entubação, aponta um ofício do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
Atualmente, com o agravamento da pandemia as reservas desses medicamentos estão no fim, e o governo passou a requisitar os estoques dos laboratórios como forma de suprir a demanda.
A recomendação 54 do CNS, de 20 de agosto do ano passado, faz referência ao cancelamento e menciona que a razão não foi explicada pelo Ministério da Saúde: “Considerando que em 12 de agosto de 2020 a operação Uruguai II, executada pelo Ministério da Saúde para aquisição de medicamentos do kit intubação foi cancelada, sem que seus motivos fossem esclarecidos”.
Trecho de recomendação do Ministério da Saúde
Reprodução
Uruguai II é o nome da operação destinada à compra dos equipamentos. A Uruguai I comprou “54.867 unidades de medicamentos usados no auxílio da intubação de pacientes em UTI que se encontram em estado grave ou gravíssimo pela Covid-19”, segundo informações do site do Ministério da Saúde.
O CNS é um órgão colegiado ligado ao Ministério da Saúde. Ele acompanha, monitora e fiscaliza as políticas públicas de saúde.
No mesmo documento, o conselho sinalizava para um cenário de desabastecimento de medicamentos do kit intubação –justamente o cenário atual.
“Considerando que o desabastecimento desses medicamentos coloca em risco toda a estrutura planejada para o atendimento de saúde durante a pandemia do novo coronavírus, pois mesmo com leitos disponíveis, sem esses medicamentos não é possível realizar o procedimento, podendo levar todo o sistema de saúde ao colapso”, diz outro trecho do documento.
O ofício conclui pedindo ao Ministério da Saúde, entre outros órgãos, a agilidade na compra de medicamentos.
O Ministério da Saúde foi procurado pelo G1 e não se manifestou até a mais recente atualização desta reportagem.
Falta de estoques
Nesta sexta (19), a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) divulgou uma “carta aberta” na qual pede que o Ministério da Saúde tome medidas urgentes diante do risco de falta de medicamentos para entubação de pacientes com Covid-19 nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) no Brasil.
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A Anahp disse ter realizado um levantamento em 18 de março junto aos seus associados e constatado que verificou a “clara a escassez de medicamentos essenciais”. A entidade listou seis medicamentos usados no procedimento de entubação, e três deles têm estoque médio de apenas quatro dias.
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“Entendemos a preocupação do governo em garantir os insumos necessários para a atenção aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), mas a situação do setor privado também é bastante preocupante e, certamente, atingirá o seu ápice nos próximos dias.” – Anahp
A entidade aponta desorganização na aquisição dos medicamentos.
“Nos últimos dois dias, houve várias requisições, desorganizando a cadeia de suprimentos e privando hospitais dos recursos necessários já contratados para atender à crescente demanda de pacientes com a Covid-19”, escreveu a entidade.
Um exemplo desse pedido de estoque de remédios pelo governo federal é o feito ao laboratório Cristália, que tem unidades em nas regiões de Campinas (SP) e Piracicaba (SP). Nesta sexta-feira, a companhia recebeu uma requisição administrativa do Ministério da Saúde para entregar medicamentos usados em UTIs para entubação.
“O Cristália reitera seu compromisso de empreender todos os esforços possíveis na produção e fornecimento não apenas dos medicamentos utilizados no tratamento da Covid-19, mas também de drogas essenciais a pacientes de outras enfermidades, como câncer e HIV/Aids”, diz nota ao mencionar que ainda mantém compromisso com clientes, comunidade médica e com o país.
Na quarta-feira (17), o Ministério da Saúde informou que fez uma requisição administrativa de 665,5 mil medicamentos para entubação no período de 15 dias. De acordo com a pasta, a requisição não inclui o estoque já contratado previamente pelos estados e municípios junto aos fabricantes.
Anvisa busca fornecedores
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, órgão vinculado ao Ministério da Saúde, disse que busca novos fornecedores. Além disso, se comprometeu a divulgar “medidas regulatórias emergenciais para enfrentar a escassez de medicamentos para entubação e suporte ventilatório de pacientes graves”.
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