Nitrato de amônio: explosão em Beirute pode ter relação com fertilizante que já causou estragos nos EUA, na China e na França
G1 conversou com professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) a respeito do mecanismo da substância importante para a produção de alimentos, mas que precisa de cuidados durante armazenamento. Veja em câmera-lenta a explosão no porto de Beirute, no Líbano
Nesta terça-feira (4), uma explosão na região portuária de Beirute deixou ao menos 73 mortos, de acordo com o governo do Líbano. A causa suspeita é uma explosão de 2,7 mil toneladas de nitrato de amônio, substância utilizada como fertilizante. Os riscos do armazenamento incorreto desse material são conhecidos, de acordo com especialista ouvido pelo G1. O produto já foi responsável por tragédias na França, na China e nos EUA.
Explosão em Beirute; FOTOS
VÍDEOS da explosão em Beirute
Veja como era a o porto de Beirute antes da explosão
Acidentes anteriores com o nitrato de amônio:
16 abril de 1947, Estados Unidos: Uma explosão de 2,3 mil toneladas de nitrato de amônio a bordo de um navio francês estacionado no porto no Texas deixou 581 mortos e mais de 5 mil feridos. Centenas de edifícios foram destruídos e a área portuária foi devastada;
28 de julho de 1947, França: Os estoques de mercadorias do cargueiro norueguês ‘Ocean Liberdade’ em Brest (incluindo mais de 3 mil toneladas de nitrato de amônio) pegaram fogo durante seu descarregamento no porto. O navio explodiu matando cerca de 30 pessoas e deixando milhares de feridos;
08 de janeiro de 1998, China: 24 trabalhadores em Xinping foram mortos e 60 ficaram gravemente feridos na explosão em uma fábrica de fertilizantes na província de Shaanxi;
21 de setembro de 2001, França: A explosão do estoque de nitrato de amônio da fábrica AZF, em Tolouse, provocou a morte de 31 pessoas e deixou 2,5 mil feridos. Os investigadores consideraram como causa uma ‘mistura infeliz’ de produtos incompatíveis antes da explosão. Em 2012, a companhia Grande Paroisse, proprietária da fábrica, foi condenada pelo tribunal por ‘homicídio culposo’;
24 de abril de 2004, Coreia do Norte: 161 mortos e 1,3 mil feridos após a colisão entre um trem que transportava petróleo e vagões carregados de nitrato de amônio, causando uma série de explosões;
28 maio de 2004, Romênia: 18 foram mortos e três feridos em uma explosão acidental de um caminhão em Mihailesti, leste do país;
17 de abril de 2013, Estados Unidos: Uma explosão atingiu uma fábrica de fertilizantes na cidade de West, no Texas, e deixou mortos e dezenas de feridos.
4 de agosto – Combinação de imagens mostra bola de fogo explodindo em Beirute, Líbano
Mouafac Harb/AFP
Usado para a produção de alimentos, o nitrato de amônio precisa ser armazenado com restrições, de acordo com Guilherme Marson, professor doutor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) e da Sociedade Brasileira de Química (SBQ).
“Não se armazena [nitrato de amônio] em grande escala com segurança. É necessário dividir o produto em pequenas porções para conter um possível estrago. E, principalmente, produzir e já transportar para onde será utilizado”, disse.
Segundo o químico, o nitrato de amônio não é um explosivo por si só. Ele se apresenta como um pó branco ou em grânulos solúveis em água e é seguro, desde que não aquecido ou em contato com alguma faísca. A partir de 210 °C, decompõe-se e, se a temperatura aumentar para além de 290 °C, a reação pode se tornar extremamente explosiva.
“Temperatura, faísca, um início de chama. O calor causa a decomposição, libera nitrogênio, oxigênio e água, eles expandem porque são gases (a água em fase gasosa, é claro). Rapidamente, eles produzem uma onda de choque. É um movimento mecânico dos gases, uma esfera que vai em todas as direções”, explicou Marson.
Os gases liberados têm a mesma massa do nitrato de amônio, mas o volume pode ser mais de 10 mil vezes maior. Marson explica que não é possível impedir a força da explosão, já que o mecanismo acontece rápido e em efeito dominó.
A explosão em Beirute
A explosão no porto causou destruição em larga escala e quebrou o vidro de janelas a quilômetros de distância. Alguns barcos que navegavam próximos à costa do Líbano chegaram a ser balançados pela força da explosão. As explosões chegaram a ser ouvidas em Larnaca, no Chipre, a pouco mais de 200 km da costa libanesa.
Parte de Beirute após explosão em porto.
Andre Aza
O presidente do país, Michel Aoun, disse que a capital deve declarar estado de emergência devido à explosão destra terça-feira e defendeu ser “inaceitável” que 2.750 toneladas de nitrato de amônio fossem armazenadas por seis anos em um depósito sem a segurança necessária.
Apesar de o país já ter sido alvo de terroristas e viver período de instabilidade política, não há evidência de que se trate de um atentado terrorista.
Mapa identifica a região portuária de Beirute, onde aconteceu uma grande explosão nesta terça-feira (4)
G1
O primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, disse em um pronunciamento que o país enfrenta uma catástrofe e declarou luto oficial de três dias. Ele disse também que o governo irá investigar os responsáveis pelo armazém que funcionava no porto da capital desde 2014.
“Eu prometo que esta catástrofe não passará sem que os culpados sejam responsabilizados. Os responsáveis pagarão o preço” – Hassan Diab, primeiro-ministro
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