Organização Mundial de AVC inicia certificação gratuita de centros de tratamento: 'Diminuir sequelas e mortalidade', diz médica do RS
Segundo neurologista e idealizadora do projeto, Sheila Martins, iniciativa pretende certificar pelo menos 100 hospitais em 2021. Cadastro das instituições começa em março. Neurologista Sheila Martins fala sobre AVC e certificação de centros de tratamento
A Organização Mundial de AVC, em inglês chamada de World Stroke Organization (WSO), iniciou um processo para certificar, de forma gratuita, os centros de tratamento especializados em Acidentes Vasculares Cerebrais na América Latina.
As instituições vão poder se cadastrar, a partir de março, para receber a certificação que será dividida em classificações. Em 2021, primeiro ano de cadastros, a meta é de certificar, no mínimo, 100 hospitais. (Veja abaixo como vai funcionar)
A idealizadora do projeto, a neurologista do Rio Grande do Sul Sheila Martins, explica que a partir da padronização e do treinamento das equipes pretende-se diminuir a mortalidade e a incapacidade pela doença.
O programa foi desenvolvido para garantir a implementação dos elementos prioritários desde o primeiro atendimento, o que aumenta a qualidade e a segurança do cuidado, melhorando os desfechos de cada paciente a longo prazo.
“E isso inclui ter alguns equipamentos importantes, ter protocolos de atendimento, ter uma equipe multidisciplinar treinada, que entra neurologia, clínico, enfermeiro, técnico de enfermagem, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, assistente social, farmacêutico, psicólogo”.
O trabalho se dará em conjunto com sociedades médicas, gestores de saúde e governos de Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Panamá, Paraguai e Peru, que receberão melhoria contínua dos serviços e qualificação da assistência integral, com os centros realizando a organização e a capacitação das redes locais, tanto no sistema privado quanto na saúde pública.
“Essa certificação vai ser vinculada com a sociedade de cada país. Então, no Brasil é a Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares e a Sociedade Brasileira de Neurorradiologia Intervencionista, que são as sociedades brasileiras que vão ser as certificadoras”, explica a médica.
A médica explica que não basta ter um alto investimento em tecnologia, as instituições precisam realizar os melhores procedimentos para o paciente.
“Uma coisa é ter tecnologia, tomografia, tratamentos para o AVC, tratamento para o cateterismo, são coisas avançadas, não é qualquer lugar que pode ter. Mas tem coisas muito básicas, como, por exemplo, avaliar se o paciente consegue engolir antes de dar a primeira alimentação, não precisa de tecnologia, precisa de pessoas treinadas para fazer isso”.
“Devia ser feito em todos os hospitais do mundo que atendem AVC. Isso não é feito, só é feito em centros de tratamento de AVC. A gente fez um levantamento internacional, de 85 países, só 30% dos hospitais fazem isso. Isso é básico para reduzir pneumonia, que aumenta muito o risco de mortalidade”, acrescenta.
‘Problema de saúde pública’
De acordo com Sheila Martins, o AVC é a segunda causa de morte no Brasil e no mundo.
“Na América Latina, tem vários países que o AVC é a primeira causa de morte, e é a primeira causa de incapacidade, de sequelas. Sem o tratamento adequado, 70% não volta ao trabalho e 50% fica dependente de outras pessoas. Então, com certeza é um grave problema de saúde pública. E isso vai diminuir sequelas e mortalidade e vai trazer uma vida melhor pra essas pessoas”, afirma.
Sheila é chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Ela foi eleita como a presidente da Organização Mundial de AVC e vai assumir em 2022. Até lá, a médica auxiliará na implantação dos centros de AVC nos demais países da América Latina – baseada no modelo brasileiro desenvolvido por ela – e na certificação dos locais de tratamento à doença.
A iniciativa é organizada pela WSO – entidade reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a única associação internacional de especialistas em AVC – em parceria com a Sociedad Iberoamericana de Enfermedad Cerebrovascular (SIECV).
acidente vascular cerebral (AVC)
Rede Globo
Certificação será dividida em classificações
Os centros de AVC certificados serão divididos em duas classificações: essenciais e avançados, além de um serviço de saúde mínimo para áreas com baixo acesso a médicos.
Para a Certificação WSO/SIECV, o Comitê Executivo definiu os critérios obrigatórios para cada nível de centro de AVC e a proporção de elementos disponíveis no centro necessários para obter a certificação, que sugere recursos e protocolos a serem implementados em cada nível.
O objetivo é fazer com que os centros implementem o maior número possível de elementos sugeridos para uma melhor qualificação de atendimento.
Como prevenir AVC
Alguns fatores podem reduzir as chances de um Acidente Vascular Cerebral. São eles:
Não fumar
Manter hábitos saudáveis de alimentação – evitando comidas com alto teor de gordura, sal e carboidratos
Realizar exercícios físicos regularmente
Reduzir o consumo de bebidas alcoólicas
Consultar o médico regularmente, para revisões dos fatores de risco
O que pode colaborar para o acidente vascular cerebral?
Augusto Carlos/TV Globo
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