Pai que pede a ajuda da filha para morrer é tema de filme
Dirigida por François Ozon, obra é baseada em romance autobiográfico e foi exibida no Festival de Cannes “Tout s´est bien passé” (“Deu tudo certo”), novo filme do diretor francês François Ozon, foi exibido no Festival de Cannes no começo do mês e aborda uma temática cada vez mais frequente no cinema: eutanásia e suicídio assistido. André Dussolier, que tem mais de quatro décadas de atuação, interpreta um empresário octogenário que sofre um derrame. Preso a uma cama de hospital, tem a visita constante da filha preferida, Emmanuèle, vivida por Sophie Marceau – conhecida do grande público por ter participado de “007, o mundo não é o bastante”, quando Pierce Brosnan era o agente James Bond. É a ela que vai pedir ajuda para morrer.
Cena do filme “Deu tudo certo”, de François Ozon: pai pede ajuda à filha para morrer
Divulgação
Embora dedicada, Manue não consegue se livrar de memórias angustiantes das relações familiares: o pai sempre foi cruel com ela, a irmã, Pascale (Géraldine Pailhas), e a mãe, papel da também veterana Charlotte Rampling, que sofre de Doença de Parkinson e não tem qualquer afeto pelo ex-marido. Quando criança, uma de suas fantasias era matar o tirano que as atormentava em casa, o que torna mais irônico o pedido para que se encarregue dos arranjos para a eutanásia. Aqui vale lembrar que, na eutanásia, é uma outra pessoa que pratica o ato, enquanto, na morte ou suicídio assistido, é o paciente que toma a medicação letal, podendo contar com a ajuda de terceiros.
À medida que o tempo passa, André (o personagem tem o mesmo nome do ator) melhora, passa a utilizar uma cadeira de rodas e parece menos deprimido. Manue pensa que o pai se esqueceu do pedido, mas o motivo de seu estado de espírito é o fato de acreditar que todas as providências foram tomadas e o desfecho está próximo.
Ao cobrar o andamento do processo, fica sabendo que o fim lhe custará 10 mil euros, algo em torno de 63 mil reais, e pergunta: “como os pobres fazem?”. A resposta de Manue – “eles esperam para morrer” – engatilha uma reflexão: a morte do patriarca será mais um ato prepotência, já que ele não é vítima de sofrimento atroz, nem sua qualidade de vida foi comprometida de forma inexorável? É razoável exigir a colaboração dos filhos para realizar tal desejo?
O próprio título descarta qualquer sentimentalismo em relação à situação. O filme conta ainda com a participação de Hanna Schygulla, como a “senhora suíça” – a eutanásia é proibida na França, mas praticada no país vizinho. É baseado num romance autobiográfico de Emmanuèle Bernheim, que foi roteirista de Ozon em duas produções (“À beira da piscina” e “O amor em cinco tempos”) e morreu em 2017, vítima de câncer. Sua estreia está prevista para setembro.