Populismo de Bolsonaro coloca Guedes em uma sinuca de bico; ouça no Exame Política
A campanha presidencial de 2018 e o início do governo Jair Bolsonaro foram marcados por uma grande expectativa do mercado em relação à guinada liberal na economia prometida pelo então superministro Paulo Guedes. Dois anos depois, ainda que seguida por um start no processo de privatização da Eletrobrás e dos Correios, a interferência de Bolsonaro na Petrobras deixa dúvidas sobre as reais intenções da agenda econômica do governo federal – e coloca Guedes numa sinuca de bico.
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“Se você comparar o que o Guedes prometeu realizar no começo do governo e o que ele entregou até agora, dá uma diferença brutal. Ele só deve ter entregue 3% do que prometeu”, comentou Ricardo Sennes, diretor da consultoria Perspectiva, no último episódio do podcast Exame Política. “Por outro lado, se ele saísse agora, entraria para a história como o ministro da economia com o pior desempenho do ponto de vista de crescimento do país. Ou seja: ele fica nessa sinuca de bico, preso entre essas duas dificuldades: de não conseguir entregar o que ele prometeu e ir perdendo espaço no governo, e ao mesmo tempo não querer sair com um legado tão ruim.”
De acordo com a última pesquisa Exame/IDEIA, divulgada nesta semana, 61% dos brasileiros acreditam que Bolsonaro deve sim interferir nos preço dos combustíveis, um dos preços que mais impactam na inflação e que já pesou no bolso de pelo menos 41% da população. Mas ao acenar a essa parcela do seu eleitorado, Bolsonaro azeda suas relações com o mercado financeiro, que já precifica as dubiedades econômicas do presidente – sem, entretanto, aprová-las cegamente.
“O presidente tem poucas boas notícias pra dar e focou bastante nisso, passando a mensagem da defesa do aumento de preços”, explicou no podcast o economista Maurício Moura, fundador do IDEIA Big Data. “Obviamente existe um lado positivo em começar as privatizações, porque esse é um processo demorado. Mas o governo está aquém do que ele se propôs a fazer. O gerenciamento de expectativas em relação às privatizações foi falho porque prometeu-se muito e entregou-se pouco. E isso gera uma descrença.”
AS VACINAS E A RETOMADA DA ECONOMIA
Na esteira dos entraves enfrentados atualmente pelo governo Bolsonaro, as incertezas sobre vacinação contra a covid-19 também foram assunto do último Exame Política. Incluindo as doses efetivamente contratadas e também as que o governo diz que já negocia, estima-se que pelo menos toda a população dos grupos mais vulneráveis já pode estar vacinada até agosto – o que propiciaria um início da retomada econômica no segundo semestre, ainda que não no ritmo prometido pelo governo.
“Mas é muito difícil que haja uma recuperação em V, como diz o governo, porque foram deixadas muitas cicatrizes em várias cadeias de valor. Muitas empresas quebraram, descontinuaram a produção, e isso não volta de uma hora para outra”, analisa Sennes. “Então me parece que a questão está, realmente, na capacidade do governo de concluir de fato essas negociações com as farmacêuticas.”
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