Por avanço da covid-19, São Paulo adia volta às aulas que seria em 1º de fevereiro
Além de ampliar o número de regiões com quarentena mais restrita, o estado de São Paulo anunciou nesta sexta-feira, 22, o adiamento da obrigatoriedade na volta às aulas presencial. O retorno estava previsto para 1º de fevereiro, mas foi transferido para 8 de fevereiro. Além disso, a principal mudança é que a presença não mais será obrigatória nas cidades com fases vermelha ou laranja, as mais restritas.
“O governo do estado de São Paulo tomou a decisão de adiar o início das aulas e suspender a obrigatoriedade presencial dos alunos da rede pública de ensino”, disse o governador João Doria em entrevista coletiva.
Como em vista das novas mudanças na quarentena e alta nos contágios, toda as regiões do estado estão em uma dessas duas fases, na prática a decisão se aplica a todas as regiões de São Paulo.
O governo voltou atrás na decisão da volta às aulas diante da alta de casos de coronavírus em todo o estado e com o temor de que a nova variante do vírus encontrada em Manaus leve a um pico sem precedentes de contágios em todo o Brasil.
Até então, com as regras anteriores, mesmo as cidades em regiões nas fases laranja e vermelha precisariam voltar às aulas presenciais na rede estadual e com obrigatoriedade de presença física em um terço das aulas. Agora, os alunos não precisarão comparecer presencialmente e poderão seguir fazendo aulas online se assim desejarem.
A primeira semana de fevereiro também será de orientação e formação a alunos e famílias para cumprimento dos protocolos e uso de ferramentas tecnológicas antes que as aulas voltem na semana seguinte. Rossieli afirma que o governo paulista investiu 1,5 bilhão de reais na compra de equipamentos para alunos mais vulneráveis e professores.
A mudança só vale para a rede estadual, que no geral comporta ensino fundamental e médio. Escolas públicas municipais podem seguir as orientações de suas prefeituras caso haja deliberação oposta, assim como as particulares, que podem estabelecer seu próprio calendário e voltar às aulas já a partir de 1º de fevereiro.
O governo afirma que as escolas estaduais seguem abertas para orientação dos pais e apoio a alunos que necessitarem. Em setembro passado, atividades nas escolas já haviam retornado de forma opcional, para reforço com os alunos.
“As escolas continuam autorizadas a continuarem funcionando, mesmo na bandeira vermelha”, disse o secretário de Educação, Rossieli Soares. “A escola pode e deve abrir”, disse.
A decisão de voltar em 1º de fevereiro mesmo na fase vermelha havia sido publicada ainda na semana passada, em 18 de janeiro, quando o colapso em Manaus já acontecia e os casos já subiam em São Paulo. Na ocasião, o Conselho Estadual de Educação deliberou que a carga horária mínima anual obrigatória seria de 800 horas para o ensino fundamental e médio e no mínimo um terço dessas horas realizadas de forma presencial a partir de 1º fevereiro, independentemente da situação do coronavírus nas cidades.
Mesmo com as novas restrições, o secretário Rossieli Soares voltou a dizer que as escolas “não são o vetor” de aumento dos casos da pandemia. “É fundamental que as pessoas discutam o que é prioridade na sociedade. Nós estamos fazendo a prevenção para que não aumente o número de covid, mas não podemos permitir que aumentem os números da depressão, da angústia”, disse.
O tema é motivo de debate por parte dos professores, profissionais, pais e alunos. Um estudo em agosto do ano passado do coletivo Ação Covid estimou que entre 11% e 46% dos alunos e funcionários em escolas públicas poderiam se infectar com a covid-19 dois meses após a volta às aulas. Para além dos alunos em si, que até agora mostram ter menor risco de contágio segundo os estudos, o temor é o aumento de circulação também de adultos nas cidades com a volta às aulas — como pais e professores.
A capacidade das escolas em comportar a volta às aulas presenciais virou assunto também na edição de semana passada do Enem, quando foram registradas aglomerações entre alunos e falta de espaço para que todos pudessem fazer as provas, ainda que com abstenção de 50%.
A alta de novos casos em São Paulo subiu 79% desde dezembro até a última semana epidemiológica, da casa dos 5,6 mil novos casos na média diária a mais de 10 mil casos. Em face do aumento, o governo de São Paulo também anunciou que vai reabrir 306 leitos de UTI no estado. Na capital paulista, o hospital de Campanha de Heliópolis será reativado, com 24 leitos de UTI — a previsão de início da operação total é em 25 de fevereiro.
“Precisamos ainda de muito mais vacinas, por isso essas estratégias de restrição se tornam imperiosas”, diz o secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, sobre a restrição na quarentena mesmo diante do começo da vacinação, uma vez que ainda não há doses suficientes para os grupos prioritários. “Nós vamos reduzir o número de óbitos, vamos salvar vida, ou vamos deixar uma seleção natural?”