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Por que a Ciência não conseguiu prever inundações na Alemanha?

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Por que a Ciência não conseguiu prever inundações na Alemanha?


Pesquisadores argumentam que modelos climáticos atuais são insuficientes para dar conta de eventos climáticos extremos e defendem a necessidade de se investir em um supercomputador que seja compartilhado por governos. Enchentes estão tendo um impacto devastador na Alemanha e em outras partes da Europa
EPA/BBC
Alguns dos principais cientistas climáticos do mundo admitiram terem fracassado em prever a intensidade das devastadoras enchentes na Alemanha e da onda de calor em partes do hemisfério Norte.
Esses cientistas corretamente advertiram, ao longo de décadas, que um clima em rápido processo de aquecimento provocaria chuvas mais fortes e ondas de calor mais danosas.
Mas eles argumentam que seus computadores ainda não são capazes de prever, de modo preciso, a intensidade desses eventos climáticos mais drásticos.
Por isso, eles estão pleiteando que governos invistam pesado em um supercomputador climático compartilhado.
Computadores são uma ferramenta essencial para a previsão climática e para o monitoramento das mudanças climáticas, e é a informática que vai escorar o novo relatório — espécie de “bíblia” da ciência climática — do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês), a ser lançado em agosto.
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“Devemos ficar em alerta porque os modelos (do computador climático) do IPCC simplesmente não são bons o suficiente”, diz à BBC News a professora Julia Slingo, ex-cientista-chefe do serviço meteorológico britânico.
“Precisamos de um centro internacional que ofereça o salto quântico a modelos climáticos que registrem a física fundamental por trás de (eventos climáticos) extremos”, agrega. “Sem isso, continuaremos a subestimar a intensidade e frequência dos eventos extremos e da natureza cada vez mais sem precedentes deles.”
Ela diz que os custos de um supercomputador do tipo, que ficaria na casa das centenas de milhões de dólares, “acabaria sendo insignificante” em comparação com as despesas resultantes de eventos climáticos extremos — para os quais nossas sociedades não estão preparadas.
Slingo defenderá essa iniciativa durante a cúpula climática CPO26, agendada para novembro.
Ela e outros especialistas concordam que as mudanças climáticas constituem uma emergência. Mas, na opinião do professor de Oxford Tim Palmer, “é impossível dizer o quanto estamos em (fase de) emergência porque não temos as ferramentas para responder isso”.
“Precisamos de compromisso e visão da mesma magnitude que o CERN (centro compartilhado europeu de estudo da física) se queremos construir modelos climáticos capazes de simular com precisão os extremos climáticos, como a atual onda de calor canadense”, diz Palmer.
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Copernicus/Sentinel-2/Sentinel Hub/Pierre Markuse/BBC
O mais importante para os pesquisadores é investigar se os eventos extremos como os que acometem Alemanha e Canadá neste momento se repetirão a cada 20 anos, 10 anos ou 5 anos — ou mesmo anualmente. No momento, é impossível saber isso com precisão.
Alguns cientistas argumentam que é inútil esperar que o IPCC diga o quão piores ficarão as mudanças climáticas. Isso porque o relatório do órgão, que supostamente reunirá todo o conhecimento acumulado em torno das mudanças climáticas, já estará desatualizado quando for lançado — um dos motivos é que foi finalizado antes desses eventos extremos em curso neste momento.
“A óbvia aceleração da quebra de nossa estabilidade climática acaba confirmando que, quando se trata de emergência climática, estamos profundamente na m…”, diz à BBC o pesquisador Bill McGuire, da Universidade College London.
“Muitos da comunidade da ciência climática concordam com isso, mesmo que não em público. Os relatórios do IPCC tendem a ser tanto conservadores quanto a buscar consenso. São conservadores porque houve dada uma atenção insuficiente à importância dos pontos de virada (pontos em que as mudanças climáticas não poderão mais ser revertidas) e de previsões de eventos fora do padrão; e consensual porque cenários mais extremos tendem a ser marginalizados”, prossegue McGuire.
“Muitos estudos revisados por pares não citados por documentos do IPCC apresentam cenários muito mais pessimistas. Não há motivo pelo qual uma visão de consenso estaria correta, e precisamos nos preparar para o pior mesmo que torcendo pelo melhor.”
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EPA/BBC
Já o professor de Cambridge Mike Hulme aponta que “o IPCC age em um ritmo mais lento e por bons motivos: a ciência leva tempo para maturar, e para que incertezas sejam corretamente contextualizadas”.
“Acho perigoso que as pessoas comecem a deslegitimar o relatório do IPCC antes mesmo de ser publicado”, critica. “Sim, há extremos climáticos, e alguns — como ondas de calor e intensidade de furacões — estão se tornando mais extremos, mas isso é previsível segundo modelos do IPCC. Acho perigoso começar a reforçar mais e mais sobre emergências. Vimos o dano que as emergências causaram com a pandemia, alimentadas pela psicologia do medo. (…) É um perigoso jogo político.”
Enquanto isso, o ex-cientista-chefe do governo britânico, David King, recentemente criou o Grupo de Aconselhamento sobre Mudanças Climáticas, na tentativa de preencher as lacunas deixadas pelo IPCC.
Um dos membros do grupo, Mark Maslin, também da Universidade College London, disse a respeito do IPCC que “o sumário executivo tem de obter a concordância e a assinatura de 193 países; seus relatórios saem a cada seis ou sete anos, e por causa do tempo que levam para serem escritos acabam ficando um ou dois anos atrasados perante a literatura (mais recente)”.
“Se eles ainda servem seu propósito? Sim, porque provém um serviço essencial de conectar cientistas, cientistas sociais e economias ao redor do mundo e oferecer estimativas-base sobre o que vai acontecer com governos e empresas. Mas se eles estão aptos a lidar com um cenário climático e político em rápida mutação? Não.”
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