Terremoto bumerangue: o enigmático fenômeno detectado no fundo do mar que dá pistas sobre como seria na Terra
Um terremoto de comportamento estranho que ocorreu sob o Oceano Atlântico fez os pesquisadores se perguntarem qual impacto ele poderia ter se um dia ocorresse em uma superfície habitada. Terremoto avançou e voltou ao longo da zona de ruptura Romanche.
Imperial College London
Um grupo de cientistas detectou um fenômeno poderoso e incomum nas profundezas do oceano.
Este é um tipo raro de terremoto em que o movimento de ruptura se estende ao longo do fundo do oceano, mas depois gira na direção do ponto de ruptura e retorna em maior velocidade.
Aquecimento dos oceanos bate terceiro recorde consecutivo em 2019, diz estudo
É por isso que os autores da descoberta o chamam de “terremoto bumerangue”.
Como ocorreu esse terremoto bumerangue em particular e que lições ele deixa sobre a destruição que poderia causar se ocorresse na superfície da Terra?
Ida e volta
Terremotos ocorrem quando duas placas tectônicas colidem ou se atritam em uma falha e causam uma ruptura no solo. Em terremotos maiores, essa ruptura se estende ao longo da falha.
Moradores de Itabirito e Ouro Preto sentem tremores de terra de magnitude 2.7
A força, a duração e a extensão dessa ruptura é o que determina o tremor que fica na superfície, e que pode causar estragos nas cidades, ou a formação de tsunamis, se a ruptura ocorrer no fundo do mar.
Para entender melhor como funcionam os terremotos subaquáticos, pesquisadores da Universidade de Southampton e da Universidade Imperial College London, ambas no Reino Unido, usaram uma rede de sismógrafos instalada na zona de fratura Romanche.
Essa área está localizada no Oceano Atlântico, próxima à zona equatorial, e se estende por 900 km, a meio caminho entre as costas do Brasil e da Libéria, onde as placas da América do Sul e da África se encontram.
Descoberta foi possível graças a rede de sismógrafos submarinos
Imperial College London
Em 2016, esses sismógrafos detectaram um terremoto de magnitude 7,1 ao longo da fratura Romanche e rastrearam a ruptura ao longo da falha.
Dessa forma, eles observaram que a fratura viajava em uma direção, mas depois “girava” e seguia o mesmo caminho, mas na direção oposta.
Graças aos modelos teóricos, os geólogos já sabiam que esse tipo de ruptura de ida e volta era possível, mas na realidade é algo sobre o qual eles não tinham tanta clareza.
Em sua pesquisa, os autores sugerem que o efeito bumerangue pode estar relacionado a uma primeira fase de ruptura que foi “crucial” para causar uma segunda fase de deslizamento rápido.
“Nosso estudo oferece algumas das evidências mais claras para este mecanismo enigmático ocorrendo em uma falha real”, diz Stephen Hicks, pesquisador do Departamento de Ciências da Terra do Imperial College London e principal autor do estudo, em um comunicado.
“Embora a estrutura da falha pareça simples, a forma como o terremoto cresceu não foi, e isso foi o oposto de como esperávamos que o terremoto fosse antes de começarmos a analisar os dados”, acrescenta Hicks.
Lições
Terremoto ocorreu na zona de ruptura Romanche, no limite das placas sul-americana e africana
Imperial College London
Hicks e sua equipe dizem que terremotos bumerangues podem ocorrer na superfície da Terra, o que pode “afetar drasticamente a quantidade de tremor que causa” .
Portanto, estudar terremotos bumerangues em mais detalhes pode ser útil para melhorar as previsões do impacto que o terremoto pode causar.
Terremoto no México: por que sismo de magnitude 7,5 causou menos estragos do que outros mais fracos
Muito pouco se sabe sobre este tipo de sismo, razão pela qual até agora não foram levados em consideração na análise dos riscos ou ameaças que podem representar.
“Entender os terremotos bumerangues pode ser útil para a construção de infraestruturas críticas, como hospitais ou usinas nucleares, e para o desenho de planos de evacuação” , diz o geólogo Daniel Melnick, pesquisador do Instituto de Ciências da Terra do Universidade Austral do Chile, que não participou da pesquisa.
O geólogo se pergunta, por exemplo, o que aconteceria se depois de um terremoto bumerangue fosse ordenada a evacuação das pessoas e, enquanto elas estivessem do lado de fora, o terremoto voltasse.
Melnick acrescenta que seria útil analisar o modelo de um terremoto bumerangue em uma falha como a falha de San Andreas, na Califórnia, onde se estima que um grande terremoto poderia causar muitos danos e onde há infraestrutura crítica construída perto da falha.