Um roteiro para o envelhecimento feminino sem filhos
Livro aborda a experiência de mulheres que não viveram a maternidade Algumas não conseguem engravidar. Outras optaram por não tê-los, ou não quiseram correr o risco de transmitir doenças genéticas. O que Kate Kaufmann pretendeu, ao escrever “Você tem filhos? Como as mulheres vivem quando a resposta é não”, foi abordar as inúmeras possibilidades para quem vive a situação – sem qualquer julgamento de valor – com uma pergunta: “quem somos nós?”. Ela inclusive estima um incremento no número das que não serão mães: “as da geração X (nascidas entre meados da década de 1960 e o início dos anos de 1980) e as millenials (da década de 1980 até o fim do milênio) costumam pensar em suas opções de parceria, nos fatos econômicos da criação de uma família e no impacto do crescimento populacional em nosso planeta”.
Estudos, trabalho, relacionamentos efêmeros. As pesquisas mostram que as que apresentam níveis mais altos de educação têm maior probabilidade de adiar ou abrir mão da gravidez. De acordo com um desses levantamentos, a cada nível acadêmico que uma mulher completa (bacharelado, mestrado, doutorado), suas chances de permanecer sem filhos aumentam em 14%. No entanto, ocorre o oposto com os homens que, bem empregados, têm muito mais chances de se tornar pais. “Não ter filhos é um benefício para a carreira da feminina. Paradoxalmente, é melhor para um homem se ele for casado. Ao ter um bebê, o salário do pai aumenta 6% ao longo da vida. A mãe, por outro lado, perde 4% a cada criança que dá à luz”, escreve.
Kate Kaufmann, autora de “Você tem filhos? Como as mulheres vivem quando a resposta é não”
Divulgação
“Quem guia a mulher sem filhos por esse vasto mar de possibilidades, desde a juventude até a velhice?”, instiga Kaufmann, que abandonou os caros tratamentos para engravidar e decidiu dar visibilidade à questão. Há uma profusão de depoimentos como, por exemplo, a história do casal que acolheu a sobrinha de 17 anos durante um ano – e constatou que sua opção de não procriar tinha sido a correta para a dupla. Ou da viúva sem herdeiros que descobriu sua verdadeira vocação ao ir para a universidade depois da morte do marido. Ou ainda da mulher cujas amigas todas se tornaram avós e agora só desejam falar dos netos: “depois de dez minutos, quero chamar um táxi”, confessa.
Para as que ingressam em famílias com filhos de outras pessoas, aconselha: “aceite que se sentir estranha quando seu parceiro está com eles é normal e natural. Não leve para o lado pessoal e mantenha-se conectada consigo mesma”. Sobre envelhecer sem uma prole, orienta: “fazer planos que assegurem que nossos anos de velhice sejam gerenciados segundo nosso gosto, e ajustados ao nosso orçamento, é crucial”. Aliás, rebentos não são sinônimo de suporte nessa fase, por isso Kaufmann enfatiza a importância de criar um sistema de apoio de amigos, familiares e vizinhos. Por fim, lembra que a vida sem filhos pode ser tão interessante e gratificante quanto aquela em que se opta pela criação de uma família: “quando nosso tempo na Terra termina, deixamos para trás outras coisas além dos passos de nossos descendentes”, ensina.