Artigo da UFSM publicado em jornal britânico apresenta nova hipótese sobre origem de grupo de dinossauros
Cientistas sugerem indícios que podem preencher lacuna na presença de ornitísquios no período Triássico. Estudo foi publicado nesta quarta (26) no periódico Biology Letters. Exemplos de Ornitísquios e o antepassado Sacisaurus agudoensis
Márcio Castro/Reprodução
Uma lacuna na base evolutiva dos ornitísquios — ordem dos dinossauros herbívoros caracterizados por chifres e armaduras, como o triceratops e o estegossauro — pode ter sido preenchida. Um artigo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), publicado no jornal científico britânico Biology Letters nesta quarta-feira (26), propõe a hipótese de que parentes distantes desses dinossauros, encarados até então como “linhagens fantasmas”, podem ser considerados ancestrais de fato.
Na árvore evolutiva dos dinossauros, dois grupos se destacam: os ornitísquios e os saurísquios (como o tiranossauro rex e o velociraptor). O segundo é bastante encontrado nos três períodos da era mesozóica — Triássico, Jurássico e Cretáceo, informa o estudo. O primeiro, no entanto, tem escassez de fósseis no período mais “antigo”, o Triássico.
Até o momento, a sugestão de que os ornitísquios surgiram mesmo no Triássico se dá por espécies semelhantes mas de características diferentes, que não eram considerados dinossauros. Agora, com o estudo da dupla, os antepassados primitivos do triceratops, os silessaurídeos, podem ter sido reconhecidos como “parentes próximos”. (Veja nas ilustrações)
“Algumas formas [de fósseis] começam a acumular características que vão estar presentes nos ornitísquios, muitas relacionas à dentição e algumas a ossos do crânio. A mandíbula também é uma espécie de projeção óssea, que é comum nos silessaurídeos”, explica Müller.
Esquema apresenta nova hipótese com silessaurídeos na base evolutiva dos ornitísquios
Márcio Castro/Reprodução
Os silessaurídeos são conhecidos em rochas de vários lugares do mundo, incluindo o Brasil. Entre eles, o Sacisaurus agudoensis, um pequeno animal que viveu cerca de 225 milhões de anos atrás e foi encontrado em Agudo, na Região Central.
Ao todo, a dupla fez mais de 17 mil pontuações em uma matriz de dados para chegar a esta conclusão. Müller conta que foram analisadas 277 características de esqueleto de 62 espécies. Com a pesquisa, ele espera que ideias anteriores possam ser revisadas e ajudar a orientar novas descobertas.
“Tem muitas hipóteses vigentes. Em certos aspectos, esta é mais plausível, em outras, não. Vamos testar nas várias matrizes e ver o resultado. Mas tem um impacto, sim, porque a origem dos dinossauros é bem debatida”, afirma o paleontólogo.
Outra novidade que a hipótese alternativa revelou foi que os ancestrais dos ornitísquios eram, possivelmente, carnívoros. O mesmo padrão também tem sido observado no grupo dos sauropodomorfos (os gigante pescoçudos, como o bontossauro), que teriam sido originados de um ancestral pequeno, bípede e carnívoro, embora sejam herbívoros.
O Sacisaurus agudoensis, pequeno animal que viveu cerca de 225 milhões de anos atrás, foi encontrado em Agudo
Márcio Castro/Reprodução