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Artigo: o que o relatório do IPCC ensina sobre Darwin

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Artigo: o que o relatório do IPCC ensina sobre Darwin

Paulo Puterman*

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) lançou, com bastante estardalhaço, seu sexto relatório sobre aquecimento global na segunda-feira, 9. Deve-se destacar que este é o primeiro relatório publicado desde 2013 e seu sumário foi auditado por revisores habilitados de 195 países, o que garante sua representatividade.

Como os relatórios anteriores, o documento, que servirá como base para as negociações na COP26, é predominantemente um alerta e um estímulo à cobertura jornalística. Ele adianta que um mundo 1,5ºC mais quente terá ondas de calor e enchentes cada vez mais frequentes, como as que recentemente devastaram China, Alemanha e Bélgica. Uma política de emissões zero poderia ajudar a prevenir a piora desta situação.

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Do ponto de vista dos reguladores, no entanto, o relatório traz uma importante mudança de foco, com consequências imediatas. Até hoje, as recomendações do IPCC tinham um foco claro na regulação de emissões com políticas e efeitos aos quais estamos nos acostumando (menos ênfase em energia fóssil e maior em renovável, busca de alternativas para transporte etc.).

O texto mais recente, por sua vez, traz uma recomendação clara para que órgãos regulatórios, em seus diversos níveis (internacional, federal, estadual e municipal), trabalhem no sentido de avaliar riscos específicos, buscando adaptações para as suas jurisdições, tornando-as mais resilientes a eventos de natureza climática.

O conceito de adaptação está na base da teoria da ‘evolução por seleção natural’ elaborada por Darwin. Assim, os indivíduos adaptados tendem a sobreviver e a passar suas características mais bem sucedidas para as gerações subsequentes.

As adaptações envolvem desde a instalação de sistemas de alarmes para incêndios e enchentes, até a elaboração de rotas de fuga que permitam o deslocamento rápido de grandes contingentes populacionais ameaçados por efeitos locais das mudanças climáticas.

No decorrer do aquecimento global, riscos e processos adaptativos serão desiguais e muito regionalizados. A Europa, por exemplo, terá de se preparar mais adequadamente para ondas de calor e enchentes, enquanto incêndios devem ganhar frequência em boa parte dos Estados Unidos. Adaptações diferenciadas surgirão e estados insulares deverão adotar medidas radicais, que talvez incluam a remoção total de suas populações.

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Serão projetos custosos, que envolvem desde a instalação de sistemas de alarmes para incêndios e enchentes, até a elaboração de rotas de fuga que permitam o deslocamento rápido de grandes contingentes populacionais ameaçados por efeitos locais das mudanças climáticas. Esse processo precisará se beneficiar, da melhor maneira possível, de instrumentos de coleta e análise de informação para o suporte às decisões. A necessidade de se angariar informações locais relevantes prevalecerá em relação aos cálculos globais, que têm caracterizado os relatórios do IPCC.

Numa conclusão apressada, a ausência de dados e análises essenciais para tomada de decisões como estas pode culminar na falta de recursos ou na necessidade de alocação de rápida de recursos para emergências e eventos não previstos. Nesse sentido, muitas das adaptações realizadas sem o planejamento necessário acontecerão na marra, com o abrigo de contingentes removidos emergencialmente.

Por outro lado, o cenário apresenta uma oportunidade de negócios de vários trilhões de dólares: a coleta de informações, planejamento adequado de reação a catástrofes e obras que permitam a mitigação das consequências das mudanças climáticas. Um exemplo de segmento de negócios que se beneficiará desta oportunidade é o do setor de construção civil.

O risco de danos físicos a edifícios, como resultado de inundações (ou outras condições meteorológicas extremas), vai fomentar investimentos em construções resilientes, que possam suportar melhor os danos de tempestades, ventos fortes e inundações, abrindo uma série de possibilidades para a reforma de edifícios existentes em busca de uma maior resiliência.

Outro exemplo é o do setor de abastecimento de água. A mudança nos regimes hídricos obrigará populações a desenvolver tecnologias que ainda não estão disponíveis para que se evite uma escassez de proporções não conhecidas. Empresas especializadas em infraestrutura hídrica sustentável e resiliente ganharão espaço em mercados que pareciam definitivamente ocupados através de redes de distribuição pública.

Esses mercados terão de se adaptar para evitar o risco da seleção natural de suas populações, como já aconteceu em outras oportunidades na história. O setor privado e a comunidade de negócios e inovação têm muito a contribuir para ajudar na mitigação dos riscos.

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*Paulo Puterman é Phd em Biotecnologia e empreendedor

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