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Cuidados paliativos depois da pandemia: em alta ou em risco?

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Cuidados paliativos depois da pandemia: em alta ou em risco?


Especialista norte-americana alerta: apesar da importância do atendimento, o serviço pode sofrer com cortes em orçamentos Na semana passada, o VIII Congresso Brasileiro de Cuidados Paliativos, em versão virtual, disparou um alerta: o atendimento dos profissionais dessa área pode sofrer um revés. A reflexão foi feita na abertura do evento pela médica norte-americana Diane E. Meier, diretora do Center to Advance Palliative Care e professora de geriatria e ética médica na faculdade de medicina do Hospital Mount Sinai, em Nova York. Numa pandemia que já contabiliza mais de 50 milhões de casos no mundo, e 1.3 milhão de mortes, reportagem publicada em abril pelo jornal “The Washington Post” definia a situação: “Coronavirus has given doctors a new job: palliative care. It’s not just about treatment. We also need to make sure that our patients feel seen”. Em tradução livre: o coronavírus deu aos médicos uma nova atribuição em seu trabalho: cuidados paliativos. Isso não se resume ao tratamento. Também precisamos nos certificar de que os pacientes não se sintam invisíveis.
A médica Diane E. Meier, diretora do Center to Advance Palliative Care e professora de geriatria e ética médica
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É uma constatação amarga: a abordagem dos cuidados paliativos – que, na verdade, deveria pautar todo tipo de tratamento, buscando aliviar a dor e o desconforto e garantir o bem-estar do paciente – não é prioridade nos cursos de medicina. Na pandemia, ficou patente sua relevância e esses especialistas foram responsáveis pelo treinamento de colegas de outras áreas. No entanto, para a doutora Meier, o cenário daqui para a frente traz riscos: “os otimistas dizem que o cuidado paliativo será sempre necessário e que a Covid-19 aumentou o seu valor. Já os pessimistas alertam para o fato de que o sistema está funcionando com 50% da sua capacidade e que isso representa um risco para a viabilidade do serviço. O cuidado paliativo é um alvo fácil para cortes no orçamento em tempos de contenção de despesas. Falhar no planejamento quando há um substancial aumento nas taxas de doença e mortes é inconcebível. Mina a confiança do paciente, sua saúde a longo prazo e os valores essenciais da sociedade. Garantir cuidados paliativos no contexto de um desastre como o que vivemos é um imperativo moral da sociedade”.
O que distingue as equipes de cuidados paliativos é a capacidade de ouvir e a receptividade aos desejos dos pacientes. Uma visão que deveria ser compartilhada por todos os profissionais de saúde, mas talvez caiba a nós ensinar que a figura do médico distante é um anacronismo. Na abertura do congresso, foi particularmente emocionante um vídeo com depoimentos de pessoas que recebem esse tipo de suporte, apresentado por Ana Michelle Soares, paciente de câncer de mama metastático e autora do livro “Enquanto eu respirar”. Separei algumas falas para mostrar que nenhuma enfermidade, mesmo grave, é capaz de definir alguém: “Não queremos ocupar apenas o espaço do sofrimento”; “É importante ser visto além da doença”; “É bom ser amparado pela família e pelos amigos, mas sem que eles abram mão de suas vidas, para que a gente não se sinta um fardo”; “Temos que desconstruir o tabu, falar abertamente, aliar técnica e humanidade”. Uma lição para médicos e não médicos.

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