Declínio da vacinação de rotina em crianças pode ser mais prejudicial do que o coronavírus, alerta OMS
Agencia demonstrou preocupação especial com Brasil e América Latina, e informou que há quase 30 anos não via queda na imunização contra tétano, difteria e coqueluche. Covid-19 se apresenta como um desafio na garantia da saúde e imunização das crianças
Menino Buchudo/Marcos Aragão
Por causa da pandemia de coronavírus, esta é a primeira vez em quase 30 anos que o mundo registra uma diminuição no número de crianças que tomaram todas as doses da vacina que protege contra a difteria, tétano e coqueluche, chamada de tetravalente.
A informação é da Organização Mundial da Saúde (OMS), que publicou um alerta nesta quarta-feira (15) sobre o declínio na vacinação de rotina em crianças em todo o mundo por causa do coronavírus.
Segundo o alerta, os quatro primeiros meses do ano registraram “uma queda substancial no número de crianças que completam as três doses da vacina contra difteria, tétano e coqueluche (DTP3)”.
“Esta é a primeira vez em 28 anos que o mundo registra redução na cobertura vacinal contra difteria, tétano e coqueluche”, diz OMS.
Novos surtos de sarampo no mundo é outra preocupação da agencia diante da queda na imunização de rotina, já que, segundo levantamento da OMS, pelo menos 30 campanhas de vacinação contra o sarampo em todo o mundo correm o risco de serem canceladas por causa da pandemia.
“O sofrimento e a morte evitáveis em crianças que perdem as imunizações de rotina podem ser muito maiores do que a própria Covid-19”, alertou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
“As vacinas podem ser entregues com segurança mesmo durante a pandemia. Estamos pedindo aos países que garantam que esses programas essenciais [de vacinação de rotina] continuem para salvar vidas”, pediu Tedros.
“Não podemos trocar uma crise de saúde por outra”, concluiu o diretor-geral.
O órgão estimou que a probabilidade de uma criança nascida em 2020 de ser vacinada com todas as vacinas recomendadas globalmente quando atingir os 5 anos é inferior a 20%.
Cobertura vacinal no Brasil abaixo dos 50%
O alerta demonstra preocupação especial com o Brasil, Bolívia, Venezuela e Haiti, locais onde a diminuição da cobertura vacinal em crianças vem ocorrendo a uma década.
“A situação é especialmente preocupante para a América Latina e o Caribe, onde a cobertura historicamente alta caiu na última década. No Brasil, Bolívia, Haiti e Venezuela, a cobertura vacinal caiu em pelo menos 14 pontos percentuais desde 2010”, alertou a agencia internacional de saúde.
O Brasil também foi citado em outro ponto do alerta: segundo a OMS, dois terços dos quase 14 milhões de crianças que não foram imunizadas durante a pandemia estão concentrados em apenas 10 países. O Brasil é o único da América do Sul a aparecer na lista.
Dados do DataSus sobre imunização mostram que, até a terça-feira (14), a cobertura vacinal do Brasil em 2020 está em torno de 43,8%. Nas regiões Norte e Nordeste, a cobertura vacinal não chega aos 40%. A região mais imunizada é o Centro-Oeste, onde a cobertura está 50,8%. Os dados estão muito abaixo da meta de vacinação nacional do Ministério da Saúde, que é de 90 a 95%.
O Ministério da Saúde afirmou ao G1 que os dados de 2020 sobre imunização são preliminares e não refletem a realidade. “Os estados costumam demorar até um ano para concluírem os dados do atual período”, afirmou a assessoria da pasta.
Em 2019, o Brasil enfrentou um surto de sarampo, com 15 mortes e mais de 10.500 casos confirmados.
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