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Desejo não tem prazo de validade

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Desejo não tem prazo de validade


“O sexo deveria morrer conosco, e não antes de nós”, diz a sexóloga Cristina Scalco No começo do mês, tive o prazer de conhecer, on-line, a ginecologista, sexóloga e terapeuta sexual Sandra Cristina Poerner Scalco, em seminário realizado pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família (Ibdfam), do Rio Grande do Sul. O assunto era sexo e como essa é uma manifestação natural e saudável que acompanha a pessoa até o fim da sua vida. Tentando resumir numa frase tudo o que foi dito pelos especialistas durante os dois dias do evento: desejo não tem prazo de validade e sexo não é só penetração.
Especialista em sexualidade humana, com mestrado em saúde coletiva e doutorado em epidemiologia, a doutora Scalco explicou que o conceito de funcionalidade sexual engloba a frequência com que se faz sexo; seu resultado, seja orgasmo, prazer ou satisfação; e interesse. Já a disfunção sexual se caracteriza exatamente pela inadequação, pela angústia e pelo incômodo em relação à questão com duração superior a seis meses. Portanto, não se trata de quantidade – quantas vezes se faz sexo ou se atinge o orgasmo – e, sim, sobre a qualidade dessa experiência.
Relacionamentos maduros: desejo permanece e vale a pena ampliar o repertório sexual para ter mais prazer
Michelle Maria para Pixabay
“O sexo deveria morrer conosco, e não antes de nós”, afirmou, acrescentando que as pessoas fecham portas, quando poderiam enriquecer seu repertório na maturidade. “É possível experimentar dentro da área do consentimento e ir expandindo esse território. Não se trata apenas de penetração: valem novas posições, brinquedos eróticos, brincar de personagens”, detalhou. Na sua avaliação, as mulheres, com frequência, se limitam a satisfazer o outro e acabam usando a chegada da menopausa como uma desculpa para fugir do ato: “agem como se fosse uma aposentadoria. A memória de boas experiências nos retroalimenta para dar e ter prazer, mas é preciso atribuir importância ao sexo, que não pode ficar no fim da fila das prioridades”.
O geriatra e professor Newton Luiz Terra descreveu situações vividas em seu consultório que ilustram bem a longevidade do desejo. Disse que, inúmeras vezes, ouviu frases como “meu pai é tarado”, proferidas por filhos chocados com o interesse de idosos por sexo. Contou que uma paciente viúva se masturbava com um bibelô, uma daquelas pequenas peças de porcelana que ornamentam a sala, e resumiu: “falar de sexo é falar de vida”.
Em sua apresentação, abordou o declínio androgênico do envelhecimento masculino, erroneamente conhecido como andropausa, que vem acompanhado da diminuição do desejo e qualidade da ereção – e inclusive de depressão. “Um em cada três homens com mais de 60 apresenta dificuldade de ereção, e as relações sem penetração também podem ser muito prazerosas. Há nuances de ternura e afeto, outras formas de intimidade”, enfatizou.
Para completar, esclareceu que o pico sexual masculino se dá na casa dos 20 anos e depois declina, enquanto, entre as mulheres, acontece na faixa dos 40. Doenças crônicas, como diabetes e síndrome metabólica, e medicamentos, como diuréticos, betabloqueadores, antidepressivos ou antipsicóticos, podem interferir na qualidade do sexo. “A terapia de reposição hormonal pode ser indicada para ambos os sexos, mas implica riscos e só deve ser feita com supervisão médica”, reforçou.

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