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Em carta, cientistas manifestam 'preocupação' com resultado de teste da vacina da Rússia contra a Covid

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Em carta, cientistas manifestam 'preocupação' com resultado de teste da vacina da Rússia contra a Covid


37 pesquisadores alegaram “inconsistência nos dados”, com possível duplicação de resultados. Diretor de fundo que coordena a produção da vacina diz que dados estão corretos e são confiáveis. A foto, do dia 6 de agosto, mostra a vacina desenvolvida na Rússia contra a Covid-19, a primeira a ser registrada em todo o mundo contra a doença.
Handout / Russian Direct Investment Fund / AFP
Em uma carta aberta, 37 cientistas de universidades em 12 países manifestaram “preocupação” com os resultados dos primeiros testes da vacina “Sputnik V”, produzida pelo Instituto Gamaleya, na Rússia, contra a Covid-19. O fundo estatal russo que coordena a produção da vacina nega haver problemas nos dados.
A manifestação dos cientistas foi publicada no blog de um deles em 7 de setembro e reportada pela revista científica “Nature”. Os cientistas dizem que pode haver resultados duplicados nos ensaios da vacina (veja detalhes mais abaixo), e pedem que os dados numéricos de todos os experimentos e os arquivos originais das análises feitas sejam divulgados, para que outros cientistas possam examiná-los.
“Embora a pesquisa descrita neste estudo seja potencialmente significativa, a apresentação dos dados levanta várias questões que requerem acesso aos dados originais para uma investigação completa”, afirma o texto no blog, que pertence ao biólogo italiano Enrico Bucci, professor adjunto da Universidade Temple, no estado americano da Pensilvânia.
Os dados dos ensaios foram publicados no dia 4 na revista “The Lancet”, uma das mais importantes do mundo, quase um mês depois de a Rússia anunciar o registro da vacina. A liberação sem os resultados publicados gerou críticas na comunidade científica internacional, que foram refutadas pelo governo russo.
Em nota enviada ao G1 pelo fundo estatal russo que coordena a produção da vacina, o RDIF, o vice-diretor científico do Instituto Gamaleya, Denis Logunov, respondeu que “nega categoricamente as acusações de dados estatísticos imprecisos publicados na ‘The Lancet’.”
“Os dados publicados são confiáveis e precisos e foram estudados por cinco revisores da ‘The Lancet’, um protocolo clínico completo foi fornecido ao escritório editorial da revista”, diz a nota de Logunov.
“Apresentamos exatamente os dados que recebemos durante os testes, e não números que deveriam ser apreciados pelos especialistas italianos”, continua a resposta.
O G1 entrou em contato com a “The Lancet” sobre o assunto, mas, até a mais recente atualização desta reportagem, não havia obtido resposta.
A vacina russa foi a primeira no mundo – e, até agora, a única – a ser liberada para aplicação em massa, prevista para ocorrer de forma simultânea aos ensaios de fase 3 no território russo. A manobra também gerou críticas entre especialistas, que afirmam que a terceira etapa – que testa a segurança e a eficácia de uma vacina em maior escala, com milhares de voluntários – é necessária para que a imunização possa ser aplicada na população geral.
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Dados
Na reportagem publicada na revista “Nature” na terça-feira (15), o cientista Enrico Bucci, responsável pelo blog onde o manifesto foi publicado, afirma que notou problemas com o artigo assim que ele foi publicado.
Bucci observa que, em uma das figuras no estudo, os autores mostram as medições de respostas imunes no sangue em dias diferentes pós-vacinação para todos os voluntários (que receberam formulações diferentes da vacina – ou líquida, ou liofilizada, e com adenovírus diferentes como vetores).
“Existem vários padrões de dados que aparecem repetidamente para os experimentos relatados”, afirma Bucci no texto.
Em um dos casos que cita como exemplo no blog, 9 de 9 voluntários que receberam a vacina com o rAd26-S – tipo de adenovírus modificado que serviu como vetor, “carregando” o material genético do coronavírus para o corpo da pessoa – parecem ter a mesma quantidade de anticorpos no dia 21 e no dia 28 depois da vacinação. O mesmo ocorre para 7 de 9 voluntários que usaram a vacina com o adenovírus modificado rAd5-S.
“Por isso, conectar as medições de cada indivíduo ao longo do tempo seria altamente benéfico no relatório, e, portanto, na interpretação dos resultados. Esta sugestão também se aplica a medidas semelhantes nas outras figuras do manuscrito”, continua o texto.
“As chances de isso surgir por coincidência são extremamente pequenas”, disse Bucci à Nature.
O cientista italiano tem uma empresa de “comercialização de ferramentas e serviços para a melhoria da integridade da pesquisa de dados em publicações científicas”, segundo a descrição do próprio site da companhia, chamada Resis, na Itália.
“Ver esses padrões de dados semelhantes entre medições não relacionadas é realmente improvável”, afirmou, também à “Nature”, Konstantin Andreev, pesquisador de infecções respiratórias virais na Northwestern University, no estado americano de Illinois. Andreev também assina o manifesto.
“Essas discrepâncias não são secundárias [pouco importantes]”, completou.
“Não estamos alegando má conduta científica, mas pedindo esclarecimentos sobre como surgiram esses dados aparentemente semelhantes”, continuou Bucci. “Quando lemos relatos de que a Rússia havia começado a injetar a vacina em pessoas fora dos testes clínicos, sentimos que precisávamos falar imediatamente”.
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