Ministério da Saúde diz que vai continuar mapeamento de casos de Covid-19 na população
Pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) não teve o financiamento renovado. Estudo revelou que o número de infectados no Brasil é cerca de 6,5 vezes maior do que mostram os dados divulgados. Teste sorológico foi a base de estudo nacional de prevalência da Covid-19 na população brasileira
Daniela Xu/Ufpel/Divulgação
O Ministério da Saúde informou, nesta terça-feira (21), que vai continuar o mapeamento de casos de Covid-19 na população brasileira, mas não garantiu que renovará o financiamento da Epicovid, pesquisa coordenada pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Em nota, a pasta esclareceu que as três etapas previstas da pesquisa foram executadas. (Leia nota completa abaixo)
Segundo o reitor da UFPel, Pedro Hallal, a pasta não demonstrou interesse em avançar para novas etapas do estudo, que foi concluído este mês.
“Completamos as três fases, o projeto foi concluído. O que o Ministério poderia fazer, que seria razoável, era continuar e fazer mais fases da pesquisa. Infelizmente, parece que o Ministério não está interessado, porque não nos procurou mais. Embora a gente tenha manifestado o quanto era importante seguir em mais fases da pesquisa”, explica Hallal.
O Ministério da Saúde afirmou que há a possibilidade do estudo ser desenvolvido por outra instituição, ou ainda pelo PNAD Covid, na pesquisa do IBGE. “Uma alternativa em estudo é utilizar ambas as estratégias”, explicou o ministério.
O estudo desenvolvido pela UFPel encontrou uma grande diferença entre os números das estatísticas oficiais e as pessoas que têm anticorpos para a doença. De acordo com a pesquisa, o número de infectados no Brasil pelo coronavírus é cerca de 6,5 vezes maior do que mostram os dados divulgados.
Confira os resultados da primeira etapa da pesquisa da UFPel
Confira os resultados da segunda etapa da pesquisa da UFPel
Confira os resultados da terceira etapa da pesquisa da UFPel
A terceira fase da pesquisa mostrou que, em dois meses, aumentou a prevalência do coronavírus em um grupo de cidades analisadas: de 1,9% (fase 1 da pesquisa entre 14 a 21 de maio) para 3,8% (fase 3, que ocorreu de 21 a 24 de junho). No mesmo período, o distanciamento social caiu de 23,1% para 18,9%.
“Os resultados, inclusive, foram bastante elogiados pelo Secretário-Executivo do Ministério [Elcio Franco]. Os artigos estão sendo publicados em uns dos melhores periódicos científicos do mundo, estão em avaliação e serão publicados. Não existe nenhuma razão científica que justifique a não continuação do financiamento. Agora, se existe alguma outra razão, nós desconhecemos”, aponta o reitor.
Continuação da pesquisa
A UFPel, agora, busca novas formas de financiamento para dar sequência às próximas fases da Epicovid. Conforme Hallal, já existem negociações com instituições de pesquisa e iniciativa privada, para evitar que o estudo seja afetado.
“É uma coisa muito triste para o Brasil, tu ter o maior estudo epidemiológico do mundo sobre coronavírus e o estudo parar no meio por falta de financiamento. Acho que é um pouco do retrato de como o país trata a ciência e tecnologia”, afirma Hallal.
Nota do Ministério da Saúde
O Ministério da Saúde dará continuidade a estudos de inquérito epidemiológico de prevalência de soropositividade na população. Ainda não está definido se será a continuação do EPICOVID19-BR, pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) ou por outra instituição, ou PNAD Covid, pelo IBGE. Uma alternativa em estudo é utilizar ambas as estratégias.
O Ministério da Saúde esclarece ainda que, conforme estava previsto no Termo de Execução Descentralizada (TED) firmado com a UFPel, as três etapas previstas da pesquisa EPICOVID-19 foram executadas. A pesquisa “Evolução da Prevalência de Infecção por COVID-19” foi financiada pelo Ministério da Saúde por meio de um Termo de Execução Descentralizada de Recursos. O extrato foi publicado no Diário Oficial da União.