Não existem práticas concretas de ESG sem o uso da tecnologia
Por Carolina Alcoforado*
O avanço da tecnologia caminha de mãos dadas com as ações e iniciativas ESG, e o mercado financeiro está de braços abertos às companhias que estão dispostas a aliar inovação e boas práticas de governança, meio ambiente e bem-estar social.
O mercado financeiro tem dado destaque e maior atenção a empresas que possuem selos de validação de ações sustentáveis em avaliações de acesso a crédito, captação de grandes investidores institucionais e a presença em fundos de destaque. Cada vez mais fica claro que ser responsável nas três esferas ajuda a criar valor agregado e traz reconhecimento a quem aposta em iniciativas com este viés.
Para tanto é preciso comprovar que realmente há um trabalho efetivo em curso, amparado por metodologias e processos de desenvolvimento sustentáveis e transparentes. Ou seja, mais do que executar ações, é preciso saber metrificar e mostrar com clareza os impactos gerados por elas.
E este talvez seja o principal calcanhar de Aquiles de muitas empresas. A falta de instrumentos que balizem suas iniciativas, sejam elas atreladas à carência de tecnologia ou mesmo pela falta de recursos para a gestão de projetos nos moldes da ESG, acaba distanciando dessa pauta os pequenos e médios, principalmente.
Não é por acaso que, no Brasil, apenas 16% dos pequenos negócios desenvolvem projetos de sustentabilidade com supervisão de resultados, conforme indica pesquisa do Sebrae, de 2018. Outro dado que reforça essa análise é que mais da metade (54%) faz ações isoladas, esporádicas e sem planejamento, o que denota uma grande disposição de engajamento, mas que não se traduz na prática.
O erro de muitos (e isso também inclui grandes companhias) é achar que a ESG é um caminho solitário. É importante lembrar que o uso da tecnologia nem sempre requer investimentos vultosos e que ações, iniciativas e projetos podem ser proporcionais ao tamanho de cada empresa.
O Inside ESG Tech, estudo realizado este ano pelo Distrito Dataminer, revela que atualmente no Brasil, há 740 startups atuando em soluções das áreas do ESG, inclusive no segmento B2B. Parte dessas empresas (260), já recebeu cerca de US﹩ 1 bilhão a partir da gestão de projetos de impacto e atuando em questões éticas e de transparência. Neste ano de 2021, o volume investido já passa de US$ 89,8 milhões.
Essas startups (também chamadas de ESG Enablers) estão presentes nos mais variados campos de atuação e escopos de trabalho — especialmente nos setores de água e energia (17,96%), educação (10,22%), finanças (8,73%) e marketing (8,6%).
A base desse tipo de trabalho, quase sempre, são as “análises preditivas”, que combinam uma série de técnicas, fórmulas matemáticas e estatísticas para coletar dados em tempo real e apontar tendências, identificar riscos e fazer prognósticos.
Partindo da coleta de dados, aplicando inteligência artificial e internet das coisas (IoT), as empresas têm conseguido amparar suas ações ESG e, sobretudo, passaram a metrificá-las, abrindo também caminhos para participar de maneira mais ativa no mercado financeiro.
Para se ter uma ideia, somente os fundos de energia renovável levantaram US$ 258 bilhões nos últimos 10 anos, segundo informações da Bloomberg. Em 2020, foram investidos cerca de US$ 52 bilhões em ativos verdes de fundos de private equity, de acordo com o Preqin — provedor de dados financeiros e informações sobre o mercado de ativos alternativos. Ou seja, o cenário nunca foi tão favorável para a ESG em termos de captação de recursos.
As perspectivas são otimistas para empresas com sede de criar ações de grande impacto na sociedade, de maneira estruturada e irão se beneficiar dos incentivos que o mercado financeiro oferece. E a tecnologia é, sem dúvida, um aliado essencial nesse processo — e não apenas uma tendência.
*Carolina Alcoforado é a COO da Melhoramentos desde maio de 2020, onde atua principalmente frente às áreas de Controladoria, Finanças & Suprimentos, Tecnologia, Estratégia para Novos Negócios e apoio à Relações com Investidores
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