Para inovar, seu time precisa de segurança psicológica
Quais as características de uma empresa verdadeiramente inovadora e de alta performance? Quais os diferenciais em comparação com as outras organizações? Na sua lista, provavelmente constam itens como um time composto por talentos, investimento em avanços tecnológicos e liderança estratégica.
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É verdade que tudo isso pode, sim, contribuir para a construção de uma empresa de destaque, inclusive falamos sobre o papel dos talentos na corrida digital e o poder da monotarefa na produtividade nos últimos artigos.
Porém, existe um fator importantíssimo e que normalmente fica de fora dessa conversa: a segurança psicológica. Ouso dizer que esse foi um aspecto fundamental quando, no ano passado, tivemos que reorganizar nossa forma de trabalho diante das restrições impostas pela pandemia.
Agora, esse fator cresce em importância quando mais empresas, aos poucos, adotam um modelo híbrido de operação (nem 100% online, nem 100% presencial como antes). E, por “mais empresas”, me refiro ao dado de uma pesquisa recente do IDC Brasil, feita a pedido do Google, que mostra que 43% dos entrevistados afirmaram que a nova dinâmica já foi definida como padrão no lugar em que trabalham.
Outro levantamento, desta vez do Zoom com a SurveyMonkey, revelou que 65% dos respondentes que trabalharam em casa no ano passado preferem o modelo híbrido. Da mesma forma, um estudo da Robert Half apontou o “rodízio” entre home office (ou anywhere office) e escritório como a aposta de 95% dos executivos pesquisados — na opinião deles, essa é uma mudança que veio para ficar. Ou seja, muitos dados apontam para essa tendência.
E se esse for, de fato, o novo cenário, precisamos fortalecer seu alicerce. Parte desse trabalho de base envolve o cuidado com a segurança psicológica e sabe por quê?
Vivemos tempos extremamente incertos, tanto que até o acrônimo VUCA ficou datado e deu lugar para um novo, o BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear, Incomprehensible).
Frágil, ansioso, não linear e incompreensível são os adjetivos traduzidos deste conceito formulado no ano passado pelo futurista e antropólogo Jamais Cascio. Adjetivos que, convenhamos, não inspiram uma postura tão audaciosa, aquele espírito aventureiro em busca do novo, da disrupção.
Contudo, ironicamente, é exatamente dessa postura que as organizações precisam neste momento, mais do que nunca. Em 2020, trouxemos o nosso escritório para casa e foi necessário nos adaptar a essa rotina. Agora, temos novas movimentações e, portanto, novos desafios. A constante nesse mundo tão repleto de mudanças é a capacidade de nos adaptarmos rapidamente, entregar valor e inovar.
A inovação, aliás, deixou de ser vista como “luxo” para ser entendida como uma mentalidade garantidora da perenidade dos negócios.
Só que pode parecer uma missão impossível atender tal necessidade no presente, em meio a tantas mudanças acontecendo dentro e fora do trabalho. E é aí que entra a importância da construção de um ambiente que proporciona segurança psicológica.
Veja bem, disseminar a crença de que todos podem falar e cometer erros não intencionais sem risco de punição ou de humilhação (definição do conceito) sempre foi importante, o que muda é que, agora, a segurança psicológica é premissa básica para conseguirmos navegar no mercado.
Não dá para exigir reinvenção do negócio se, antes, não reinventarmos a cultura organizacional. Para os colaboradores mergulharem no desconhecido em busca do novo eles precisam saber que existe um “terreno” seguro para o qual podem voltar após essa “expedição”.
Um lugar onde eles poderão compartilhar aquilo que descobriram, seus questionamentos, suas dúvidas, seus pontos de vista distintos e, eventualmente, seus erros.
Para começar a construir — ou, quem sabe, apenas fortalecer — esse alicerce, a primeira coisa é avaliar o cenário atual da sua empresa. Será que o assentamento já está sendo construído com o seu time ou a fundação ainda nem existe? Abaixo, listo algumas questões que você pode levar em conta na hora de avaliar o estágio da sua “obra”:
- As pessoas sentem que, se cometerem um erro, isso será usado contra elas?
- O time se sente confortável para compartilhar problemas ou pontos de melhoria na área?
- Em geral, os colaboradores costumam rejeitar alguém por pensar ou ser diferente?
- As pessoas da sua equipe têm dificuldade para pedir ajuda?
- Os talentos e habilidades dos integrantes do time se complementam de forma a construir soluções conjuntas ou existe uma disputa para mostrar resultados individuais?
As respostas para essas e outras perguntas que podem contribuir com tal análise irão indicar os próximos passos rumo à segurança psicológica. E lembre-se: da mesma forma que a cultura da inovação não é um lugar no qual você chega e “fica”, um ambiente de trabalho seguro também não tem um ponto final.
Essa é uma jornada contínua e pela qual devemos seguir, independentemente de pandemia, do modelo híbrido, dos desafios consequentes da crise. Tudo isso passa, mas a segurança psicológica deve permanecer.
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