Risco de apagão não está precificado pela bolsa, diz gestor da RPS Capital
91 anos. O início da década de 1930 foi a última vez em que os reservatórios das usinas hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste estiveram tão baixos como estão agora. Nem mesmo durante o racionamento de energia, em 2001, a situação esteve tão crítica.
A diferença entre o cenário atual, o de 2001 e o de quase um século atrás é o contexto econômico: a crise hídrica agora coincide com o período de recuperação da atividade econômica no pós-pandemia. Para manter a oferta de energia, o governo federal tem recorrido às usinas térmicas, que têm um custo muito mais elevado, mas ainda assim não há garantia de que o sistema vá aguentar.
“O Brasil está indo para o all win. Nesse ritmo, os reservatórios chegarão ao fim do período seco no volume morto”, define Paolo Di Sora, sócio da gestora RPS Capital.
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Nesta semana, Gabriel Barros, economista-chefe da RPS, e Gustavo Fabricio, analista-chefe de utilities da RPS, divulgaram um relatório que analisa os possíveis efeitos da atual crise energética.
A primeira preocupação apontada pelos analistas foi a inflacionária: o despacho das usinas térmicas pode levar a um aumento de um ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no final do ano. Considerando que a meta do Banco Central para a inflação é de 3,5%, trata-se de uma contribuição relevante.
Falta luz, falta PIB
O segundo risco mapeado pela RPS é o de um possível apagão. Se o período de chuvas não trouxer água suficiente para os reservatórios, como tem acontecido nos últimos anos, o Brasil pode não ter alternativa a não ser o racionamento em 2022.
“Estaremos completamente expostos ao índice de chuvas do verão. É um risco que, na minha opinião, está mal precificado pelo mercado, e que afeta tanto a inflação quanto o PIB”, alerta Di Sora.
Com o avanço da imunização dos brasileiros contra a covid-19, economistas têm revisado para cima as expectativas para o crescimento econômico de 2021. Essa deveria ser uma boa notícia, não fosse a correlação entre PIB e demanda de energia.
“Em meio a esse cenário bastante delicado, a recuperação econômica mais forte do que o originalmente esperado tem pavimentado revisões para cima na curva de carga e amplificado a preocupação com o risco de apagão”, pondera a RPS, em relatório.
Se o Brasil viver em 2022 um racionamento parecido com o de 20 anos atrás, com redução de carga na ordem de 15%, a perda potencial para o PIB pode chegar a 2,1 ponto percentual. Trata-se, de novo, de um prejuízo relevante, dado que a projeção para o crescimento da economia no ano que vem está em 2%. Em outras palavras, se o racionamento vier, a economia pode entrar em recessão.
Se o racionamento levar a uma queda entre 5 e 10% na oferta de energia, o PIB pode deixar de crescer entre 0,7 e 1,4 ponto percentual.
“A despeito da capacidade de absorção de substanciais e múltiplos choques em período tão exíguo, é natural que a economia manifeste maior fraqueza e esteja mais vulnerável a uma nova perturbação no presente, que em se manifestando, pode nos deslocar para um indesejável cenário de ainda mais inflação e menor crescimento ou estagflação”, finaliza o relatório da gestora.
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