Sapatos com ponta 'curva' podem enfraquecer músculos do pé, diz pesquisa de Harvard
Formato é comum principalmente nos tênis esportivos. Estudo foi publicado em revista do grupo ‘Nature’. Imagem mostra sapato com ponta levemente curvada para cima; cientistas de Harvard afirmam, em pesquisa publicada nesta quinta-feira (17), que a característica facilita movimentos, mas contribui para o enfraquecimento de músculos.
Freddy Sichting
Uma pesquisa publicada nesta quinta-feira (17) por cientistas de Harvard sugere que sapatos que têm “pontas curvadas”, como os tênis esportivos, podem levar a um enfraquecimento dos músculos do pé. Os resultados do estudo foram publicados na revista científica “Scientific Reports”, do grupo Nature.
Para chegar aos resultados, eles reuniram 13 voluntários, que andaram em uma esteira descalços e, depois, usando quatro pares de sandálias personalizadas. A esteira também havia sido especialmente projetada, com plataformas de força e um sistema de câmeras de infravermelho que media a quantidade de energia aplicada em cada passo.
Cada uma das sandálias tinha vários graus de ângulos de mola – 10, 20, 30 ou 40 graus. Elas haviam sido desenhadas para imitar a rigidez e a forma encontradas em calçados disponíveis comercialmente.
Imagem mostra as sandálias usadas nos participantes do estudo de Harvard (foto mais abaixo), modeladas conforme a curvatura do tênis (imagem do meio). A primeira imagem mostra como ficam os dedos do pé em um sapato com a ponta curvada.
Freddy Sichting, Nicholas B. Holowka, Oliver B. Hansen & Daniel E. Lieberman
Os cientistas descobriram que, quanto mais curvada para cima a ponta do sapato é – a chamada “mola do dedo do pé” –, menos força o pé precisa fazer contra o chão para dar cada passo.
Isso significa, dizem os pesquisadores, que os músculos fazem menos esforço. Ao longo do tempo, essa diferença vai se acumulando – eles consideram que uma pessoa comum vivendo em um país industrializado dá de 4 a 6 mil passos por dia.
“É lógico que, se os músculos do pé tiverem que trabalhar menos, eles provavelmente terão menos resistência, visto que milhares de vezes por dia você toma impulso com os dedos dos pés”, afirmou Daniel Lieberman, professor de biologia da universidade e autor sênior do artigo, ao jornal de Harvard, o “The Harvard Gazette”.
“De uma perspectiva evolucionária, usar sapatos modernos com suportes em arco, amortecimento e outras características de suporte é um fenômeno muito recente. Várias linhas de evidência sugerem que os músculos do pé fracos podem ser, parcialmente, uma consequência de tais características”, afirmou, também ao jornal de Harvard, Freddy Sichting, primeiro autor do estudo, que na época da pesquisa era pós-doutorando na universidade e agora ensina locomoção humana na Universidade de Tecnologia de Chemnitz, na Alemanha.
Músculos fracos
Os pesquisadores trazem a hipótese de que essa fraqueza em potencial pode tornar as pessoas mais suscetíveis a problemas como a fascite plantar – uma inflamação que afeta a fáscia plantar, uma membrana de tecido conjuntivo que recobre a musculatura da sola do pé.
Mas eles frisam que a ligação entre as “molas dos dedos dos pés” e a fascite plantar ainda precisa de mais estudos.
Foto mostra pessoa amarrando tênis esportivo com a ponta curvada para cima; pesquisadores de Harvard sugerem que bico virado ‘para cima’ pode levar a um enfraquecimento muscular no pé.
Pexels
“Mais estudos são necessários para investigar o efeito das molas dos dedos do pé em indivíduos que ficam habitualmente descalços”, ponderam os cientistas.
Outras limitações incluem a velocidade de caminhada e o modo de andar: o estudo não avaliou o que aconteceria em uma corrida, por exemplo. “Investigações futuras também devem testar velocidades maiores, que aumentem as demandas de estabilidade do arco e atividade muscular”, dizem os pesquisadores.
O próximo passo, dizem os cientistas, é validar essa hipótese em estudos futuros. Além de Lieberman e Sichting, a pesquisa foi realizada por um ex-aluno da graduação de Harvard, Oliver B. Hansen, e outro pesquisador de pós-doutorado, Nicholas B. Holowka.