Telemedicina pode ser aliada do envelhecimento, mas inclusão digital dos idosos é urgente
“Jornada do paciente passará a ser híbrida, com uma parte remota e outra presencial”, afirma especialista O tema entrou na ordem do dia com a pandemia e conta com o respaldo da Organização Mundial da Saúde (OMS), que encara a telemedicina como uma ferramenta poderosa para garantir cobertura de saúde para o maior número de pessoas, principalmente em locais menos favorecidos. Não se trata mais de pesar prós e contras, porque chegamos a um ponto onde não há caminho de volta – a questão é como viabilizar um novo salto tecnológico e cultural. Esse foi o tom das palestras do Global Summit Telemedicine & Digital Health 2020, realizado na semana passada.
Gostei especialmente da apresentação da médica Micaela Seemann Monteiro, diretora de transformação digital de uma rede de hospitais em Portugal, que foi incisiva ao declarar que se trata de uma transformação urgente: “vivemos uma pandemia de doenças crônicas, como diabetes, câncer, doenças cardiovasculares e respiratórias, com um custo altíssimo para o sistema de saúde dos países. Temos que mudar o foco do cuidado episódico, que é reativo, centrado na doença, no hospital, na situação aguda. A saída é focar na saúde gerenciada, que é preventiva, proativa, personalizada. O atendimento digital consegue, simultaneamente, ser personalizado e aplicado em grande escala, mas precisa de dados, inteligência artificial, robótica, internet das coisas, ciências biológicas”, afirmou.
Telemedicina: ferramenta para garantir cobertura de saúde para o maior número de pessoas, principalmente em locais menos favorecidos
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Quando se pensa em longevidade, que é a matéria-prima desse blog, prevenção é a chave para lidar com o progressivo envelhecimento da população mundial. A telemedicina pode ser a grande aliada, é o que prega a doutora Micaela Monteiro: “a jornada do paciente passará a ser híbrida, com uma parte remota e outra presencial, e ele trafegará de uma para a outra”. E como fica a resistência dos profissionais de saúde em adotar o atendimento remoto? “Médicos e enfermeiras deveriam perceber que terão mais tempo para os pacientes que necessitam mais deles. Não é a tela que compromete o atendimento ou a comunicação. Na verdade, como se comunicar com o paciente é um tema cuja importância continua não sendo endereçada nas faculdades”, enfatizou.
Bart Demaerschalk, professor de neurologia e diretor médico do Centro de Cuidados Conectados da Clínica Mayo, mostrou como a instituição conseguiu, através de consultas por vídeo e da utilização de tablets, garantir o atendimento dos doentes e preservar os profissionais de saúde. Apresentou dados impressionantes: entre 14 de março e 19 de abril, a linha de emergência para a Covid-19 atendeu a mais de 27 mil ligações. O tempo de espera era de, no máximo, oito segundos, e apenas 1% de ligações era abandonada. Agora a equipe analisa os diagnósticos remotos de 2 mil novos pacientes, que não tinham passado antes pela instituição, para comparar se foram tão precisos quanto os presenciais.
Na pandemia, os atendimentos psiquiátricos se mostraram bastante eficazes e quebraram antigas resistências. Sobram aspectos positivos na utilização da telemedicina: especialistas de grandes centros poderão ajudar médicos de cidades pequenas em casos de difícil diagnóstico – o que já é feito por hospitais de ponta. Pacientes com doenças crônicas serão beneficiados com o telemonitoramento, para serem motivados a seguir o tratamento à risca; e haverá a possibilidade de telereabilitação para os que os se submeteram a cirurgias. No entanto, há dois pontos da maior relevância que não devem ser descuidados: zelar pela segurança dos dados dos indivíduos e promover a inclusão digital dos idosos. Os que tinham intimidade com a tecnologia antes da pandemia se mostraram mais bem preparados para lidar com o isolamento e o distanciamento social. Todos têm que ter a mesma oportunidade.