Testes mostram potencial do canabidiol em prevenir crises epilépticas, aponta estudo da USP
Resultados são promissores para desenvolvimento de novos medicamentos voltados ao tratamento da doença. Estudo deve se somar à rede internacional de pesquisas sobre a substância. Canabidiol tem potencial de evitar progressão da epilepsia, aponta estudo da USP
Testes realizados na USP de Ribeirão Preto (SP) apresentaram resultados positivos no uso do canabidiol para prevenir crises de epilepsia.
A substância derivada da Cannabis sativa já é utilizada para amenizar os efeitos da doença, que por várias causas perturba a atividade das células nervosas do cérebro, mas nem todos os pacientes respondem às terapias convencionais com os remédios disponíveis no mercado.
Os apontamentos já foram compartilhados em congressos de neurociência nos Estados Unidos e devem se somar à rede internacional de pesquisas sobre a substância, inclusive na descoberta de novos medicamentos para a doença.
USP testa canabidiol no tratamento da epilepsia
Reprodução/EPTV
A pesquisa
No laboratório de neurofisiologia e neuroetologia experimental (LNNE), o grupo da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto usou doses controladas de uma substância extraída da Cannabis medicinal em animais geneticamente selecionados para apresentar os sintomas da epilepsia.
O método conseguiu evitar a evolução das crises e, em muitos casos, até controlar por completo a manifestação.
Orientador da pesquisa, o professor Norberto Cairasco explica que o canabidiol impediu que a epilepsia se espalhasse para outras partes do cérebro e, assim, reduziu a frequência das crises, que foram induzidas repetidas vezes, durante duas semanas, por estímulos sonoros de 120 decibéis, considerados de alta intensidade.
“A gente nota que, no grupo chamado ‘controle’, onde você não dá o canabidiol, esse animal progride com crises cada vez piores, enquanto nos animais tratados com canabidiol você vê uma diminuição e, em alguns animais, o sumiço completo das crises”, afirma Cairasco.
O professor Norberto Cairasco, Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, SP
Reprodução/EPTV
Próximos passos
Com o resultado positivo apresentado pelo estudo com o canabidiol em ratos selecionados geneticamente, os pesquisadores agora querem descobrir quais os mecanismos que a substância usa para controlar as crises epilépticas.
Segundo William Lopes, aluno de doutorado em neurologia da USP e um dos pesquisadores do estudo, o avanço da pesquisa pode possibilitar a produção de novos medicamentos.
“Estes resultados são promissores, pensando principalmente no desenvolvimento de novos compostos, para controlar as crises epilépticas em pacientes fármaco-resistentes”, afirma.
Para o professor João Pereira Leite, do Departamento de Neurociência e Ciências do Comportamento da USP, que participou da fase clínica do estudo, afirma que os avanços contam de forma positiva no esclarecimento da epilepsia.
“A gente identificar compostos que tenham mecanismo de ação diferente e que você possa, para aquele grupo de pacientes, ter um controle muito satisfatório, é sempre um avanço”, diz.
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