Falta de garrafas e alta de insumos podem elevar preço do vinho
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As vinícolas do Rio Grande do Sul, Estado responsável pela produção de 90% dos vinhos nacionais, enfrentam dificuldades com a falta de garrafas de vidro para envasar as bebidas, além de sucos de uva e espumantes. O cenário foi influenciado pelo aumento de 65% nas vendas dos vinhos finos este ano – 19 milhões de litros até setembro – e o descompasso com os fornecedores dos vasilhames, que diminuíram a fabricação durante a pandemia. A situação pode interferir no faturamento dos gaúchos no fim do ano e aumentar o preço aos consumidores em torno de 10%.
Outros insumos também estão em falta ou encareceram muito, como papelão, rótulos, caixas, cápsulas e rolhas. A situação já afeta o ritmo de produção de algumas empresas e cooperativas, das maiores às familiares.
“Estamos deixando de entregar pedidos no fim do ano por falta de garrafas, caixaria, rótulos. É uma demanda que ninguém estava esperando e a indústria de matéria-prima teve problema de nos fornecer”, afirmou Deunir Argenta, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra).
Ele diz que as vinícolas não terão prejuízo financeiro, mas vão deixar de faturar “alguns milhões” a mais por deixar de vender. Todos os acessórios, explica, tiveram aumento acima de 10%, que está sendo absorvido pelas empresas sem repasse linear aos consumidores até agora. Para 2021, a expectativa é de aumento nos preços. Com a desova dos estoques, a margem do segmento vai crescer em 2020.
O setor negocia com o governo estadual estímulos para a implantação de mais indústrias de vidro na região para o cenário não se repetir. A falta de vasilhames começou em setembro, segundo Argenta, porque a única fornecedora desativou forno de produção durante o ano, o que comprometeu a entrega. O desalinhamento deve seguir até o ano que vem.
A situação forçou grandes vinícolas a interromper momentaneamente as atividades em dias específicos nas últimas semanas. A previsão é de novas pausas em outras empresas e cooperativas gaúchas. O envase de suco de uva foi o mais afetado.
A Vinícola Aurora, líder na elaboração e venda de suco de uva no país, deixou de envasar 300 mil litros da bebida em dois dias por falta de garrafas. A empresa diz que a produção já foi normalizada e será entregue normalmente, mas que não teve tempo para se preparar e suprir a “procura inimaginável nunca vivenciada em 90 anos”. A produção das diversas bebidas aumentou 17 milhões de litros este ano.
O diretor superintendente da Vinícola Aurora, Herminio Ficagna, disse ao Valor que a vinícola teria potencial para ampliar entre 45% e 50% a venda de bebidas para o mercado interno da produção que subiu para 80 milhões de litros. “Esse número deverá ser revisto justamente em função da falta pontual de alguns insumos”, afirmou.
Maurício Salton, diretor-presidente da Vinícola Salton, diz que existem impactos pontuais, mas reversíveis. “No primeiro semestre, redesenhamos todo planejamento visualizando que poderíamos enfrentar dificuldades de suprimentos, então antecipamos compras para mitigar riscos”.
Algumas vinícolas optaram pela importação de garrafas, mas esbarraram na alta do dólar, que aumentou o custo dos itens em cerca de 50%, e na falta de disponibilidade dos vasilhames nos vizinhos Argentina e Chile.
A falta dos insumos afeta ainda mais os pequenos e médios produtores. Na Vinícola Cristofoli, em Bento Gonçalves (RS), os custos aumentaram entre 20% e 30% e a diretora administrativa, Bruna Cristofoli, teve que repassar parte disso, cerca de 8%, para a tabela de preços finais.
Ela conta que o problema “não é de hoje”, mas foi agravado pela pandemia. A enóloga diz que a indústria nacional parou de fabricar alguns modelos de garrafas nos últimos anos, forçando a importação. “Temos vinho que era para engarrafar há meses, mas ainda está no tanque esperando a carga de garrafas do Chile”, destacou.
Com a imprevisibilidade, ela tenta se planejar antecipadamente para atender o ritmo forte das vendas, principalmente para visitantes da vinícola e pessoas físicas. O fornecimento de papelão para envio aéreo, outra opção de comércio em tempos de pandemia, no entanto, dobrou de preço e exige uma antecipação de 75 a 120 dias no pedido.
A situação também impactou a indústria cervejeira. As grandes fabricantes têm estoque de garrafas retornáveis, mas passam pelas mesmas dificuldades com os fornecedores de papelão para embalagens, segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), Paulo Petroni. O planejamento para o fim de ano é feito “dia a dia, semana a semana e por microrregião”, com vistas aos desdobramentos da pandemia e do possível encerramento do auxílio emergencial, que atinge diretamente o consumo da bebida.
As micro e pequenas cervejarias são as que sofrem mais. “Quem não fez contrato em agosto ou setembro e corre para comprar agora vai ter dificuldade sim. Em algumas regiões, determinadas marcas podem ser afetadas”, disse ao Valor. A produção de cerveja no Brasil deve alcançar 13,8 bilhões de litros este ano. “A indústria de garrafa está trabalhando no limiar da capacidade desde 2014, quando atingimos o pico de 14,1 bilhões de litros produzidos. Não vimos investimento da indústria de garrafa para acompanhar o ritmo da indústria cervejeira”, completou.
Um grande fabricante de cerveja disse que houve faltas pontuais em função da recuperação mais forte do que o esperado e por conta do nível de estoque da cadeia na época, mas que por ora a situação está sob controle. A Ambev afirmou em nota que “segue atendendo seus clientes e tem feito um esforço extra para atender à demanda crescente”.
Ao Valor, o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), Lucien Belmonte, afirmou que não houve interrupção na fabricação de garrafas e que as empresas trabalham com 100% da capacidade. Segundo ele, a falta de vasilhames não é só por causa do aumento da demanda, mas porque produtores de bebidas reduziram pedidos durante a pandemia. “Todo mundo que tem contrato de fornecimento está recebendo tudo que foi contratado. Tem um monte de gente que deixou para fazer pedido de última hora e quer ser atendido, e não existe capacidade”, constatou.
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